Kopi Luwak, o famoso café de cocô
Se tem um assunto sobre o qual as pessoas sempre me perguntam é sobre os cafés processados por animais ou “feitos de cocô”. Arrisco dizer que depois de ter começado a trabalhar com cafés especiais, a pergunta que mais ouvi foi: “E o café de cocô, já tomou?”, para a qual geralmente respondo um sonoro “Sim!”, apenas para me deparar com as reações mais surpreendentes (que vão do nojo ao assombro).
É por isso que hoje vou dar uma resposta bem explicada a vocês, queridos leitores e leitoras do ICKFD! 😀
A origem dos cafés processados por animais pode estar lá no século 18, quando os holandeses estipularam que plantações de café poderiam dar um bom lucro se fossem implantadas nas ilhas da Indonésia, por conta das condições climáticas e de altitude. Assim, eles levaram mudas do fruto, nativo de alguns países da África, para iniciar a produção na Ásia. Acontece que os produtores holandeses não deixavam os trabalhadores da lavoura (indonésios) tomarem o café que eles mesmos plantavam, colhiam e processavam. A solução? Buscar grãos de café que eram comidos e ahn, descomidos pelo civeta de palmeira asiática, esse simpático serzinho da foto abaixo:
Fonte: zoochat.com
Os civetas vinham de matas próximas e se alimentavam dos frutos do cafeeiro, e como as sementes não eram digeridas, os trabalhadores da lavoura separavam as sementes das fezes, lavavam (bem lavadas, eu espero), torravam e moíam, como faziam com qualquer outro café. Como os bichinhos escolhiam os frutos mais maduros e doces, no fim das contas os trabalhadores tinham acesso ao melhor café que as fazendas produziam. Logo os holandeses descobriram esse processo e começaram a comercializar esse café também (e lá se foi a chance dos indonésios de beber café). Surgia assim o Kopi Luwak, ou café do civeta.
Acontece que por ser um café exótico, geralmente de qualidade razoável e baixa produção, sua raridade fez com que os preços subissem muito. Por volta de 2010, um quilo de Kopi Luwak chegou a custar mais de 700 dólares no mercado internacional, o que atraiu os olhares do mundo e de outros produtores para esse café.
Fonte (e foto de topo): alanabread.com
De alguns anos para cá, muitas fazendas começaram a aprisionar civetas e alimentá-los com grãos café, o que naturalmente não produziu o resultado esperado e criou centenas de marcas de Kopi Luwaks falsificados, de qualidade inferior. O que surgiu como uma solução criativa de trabalhadores locais se transformou em um problema de proporções bem maiores, a ponto de atualmente ser praticamente impossível saber se o Kopi Luwak vendido em um site ou cafeteria é produzido a partir de animais em cativeiro ou não.
“E é gostoso?”
É a segunda pergunta que mais ouvi, curiosidade de quem já ouviu falar do café processado por animais e quer saber que gosto tem. Tenho que confessar que sim. Até onde provei, os cafés processados por animais possuem sabores e aromas interessantes. Acho que tive sorte de provar um bom Kopi Luwak na Itália, mas já li inúmeros relatos de pessoas em diversos países que compraram cafés com a etiqueta “Kopi Luwak legítimo” pela internet e foram enganadas.
Fonte: instagram.com/arabicasimples
Só depois de experimentar o Kopi Luwak fiquei sabendo de todas essas histórias de maus tratos, que me impactaram bastante. Hoje penso que o problema ambiental decorrente da captura dos pequenos animais não justifica esse tipo de produção. É possível produzir cafés excepcionais sem causar tanto impacto. James Hoffmann, autor do The World Atlas of Coffee, chega a dizer que a prática é “abusiva e antiética”, e que acha que “todos deveriam evitar cafés processados por animais, não recompensando os produtores por esse comportamento desprezível”. O café pode até ser bom, mas estou com ele nessa.
E você, já tomou o café de cocô? 😉
[p.s. as imagens de cafés do post não são do Kopi Luwak, ok?]