Aroma e elegância na taça: vinhos brancos
Passei o mês de dezembro ajudando um amigo em uma adega muito conhecida da cidade. Meu papel na loja era conversar com o cliente que estivesse indeciso, interpretar seu “estilo enofílico” e indicar um vinho. Papel bem complicado esse, afinal, gosto é muito particular, e não se discute, não é mesmo? Mas só introduzi esse episódio para dizer que fiquei impressionada com o fato de em um país tão quente como o nosso ter ouvido tantas vezes: “vinho tinto, por favor, não gosto de vinho branco!”. COMO ASSIM?! Tudo bem, sou apaixonada pelos tintos, mas com esse calor, um branco bem gelado cai perfeitamente, gente!
Foi nesse cenário que meu instinto de pesquisadora gritou bem alto e comecei a investigar o porquê desse preconceito com os pobres dos vinhos brancos, e concluí que existem dois grandes “problemas” aqui: a acidez e o paladar mineral dos vinhos brancos. Sim, vinhos brancos podem mesmo ser mais ácidos e bastante minerais, mas quando bem harmonizados essas características são o ponto chave da apreciação da garrafa. No entanto, acidez e paladar mineral são mais comumente encontrados em vinhos feitos a partir das uvas sauvignon blanc e chardonnay (que são as mais frequentes nas prateleiras também). Então achei uma solução para vocês que não gostam dessas características: as uvas aromáticas! Vinhos delicados, elegantes e pouco ácidos. E por serem brancos devem ser servidos geladinhos, entre 8 e 12°C!
fotos: Gdfon
Os vinhos brancos aromáticos podem ser secos ou adocicados, com presença marcantes dos sedutores aromas florais, e por não passarem por envelhecimento em barricas, tais aromas são provenientes da própria fruta. No entanto, são vinhos que na maioria das vezes não harmonizam muito bem com pratos principais, sendo servidos como aperitivo. As principais uvas que compõem esse grupo são:
- Gewurztraminer: típica da região da Alsácia tem coloração rosa, dando origem a vinhos de coloração dourada ou ligeiramente rosados. Apresentam aromas que lembram lichia, rosas, casca de laranja e canela, e um alto teor alcoólico, porém com baixa acidez. São considerados os vinhos mais exóticos do mundo.
- Moscatel: encontrada, pode originar vinhos secos, semi-secos e doces. Trazem em seu paladar frutas, flores e especiarias. Existem diversas variedades dessa uva distribuídas por todo o mundo, no entanto, a Muscat Blanc é atualmente considerada uma das mais finas.
- Riesling: característica da Alemanha. Dependendo de sua origem pode produzir vinhos bastante diversificados, e diferentemente da maioria das aromáticas, origina vinhos envelhecidos magníficos. Paladar delicado, com aromas florais, cítricos, traços de mel e minerais.
- Viognier: de origem francesa (norte do Rhône), pode ser encontrada por todo o mundo. Apresenta aroma muito sedutor quando madura, dessa forma, seus melhores vinhos são bastante alcoólicos (devido a alta concentração de açúcar encontrada nas frutas mais maduras), no entanto, o vinho deve preferencialmente ser degustado jovem. No nariz e paladar, remetem muito à damasco. Por se tratar de uma uva de difícil cultivo, é comum ser misturada a outras uvas, tais como Marsanne e Shyraz.
- Torrontés: de provável origem espanhola, encontrou sua máxima expressão na Argentina. Vinhos à base dessa uva, precisam ser tomados bem jovens, apresentam aroma extremamente floral, e sua acidez é quase nula. É um vinho que a cada dia vem sendo mais e mais consumido no Brasil.
- Pinot Gris: variedade considerada nobre, da região da Alsácia, é responsável por vinhos um pouco mais fortes quando comparados Às demais aromáticas, mas ainda assim leves, porém com muita personalidade.
- Riesling Itálico: não apresenta qualquer parentesco com a riesling, origina vinhos leves, e muito florais. Tem origem italiana, mas se adaptou muito bem ao terroir da Serra Gaúcha, sendo cada vez mais utilizada na produção de nossos vinhos brancos.
Existem outras uvas aromáticas, que apesar de ainda pouco conhecidas, nos últimos anos vêm ganhando espaço mundo a fora, por exemplo a Chenin blanc, a Malvasia, Furmint (Tokay húngaro) e a Grüner-Veltliner.
Então é isso! Agora vocês não têm mais desculpas para dizer que só existem vinhos brancos ácidos, que fazem doer “em baixo da língua” já no primeiro gole! Espero que essa lista de uvas aromáticas abra um novo horizonte para os curiosos de plantão que estão atrás de uma bebida refrescante e elegante para mandar o calor pra bem longe! Mas por favor, não desistam da sauvignon blanc e da chardonnay… Elas originam vinhos maravilhosos que só precisam ser compreendidos e harmonizados! Vou fazer uma seleção em um próximo post vinhos dessas uvas que já provei e nele citarei algumas dicas de harmonização, ok?
Salute!