Filme: Os Sabores do Palácio
Desde que o ICKFD ganhou uma cara nova (e linda!), o blog dentro do site, este mesmo que você está lendo, ganhou também várias colunas. Isso faz parte do projeto da Dani de trazer mais conteúdo de uma forma divertida e dinâmica, ou seja, gente diferente falando sobre assuntos variados e com uma coisa em comum: a paixão pela gastronomia. Pois bem. Fiquei um tempo sem saber sobre o que falar se eu tivesse uma coluna aqui no site, já que geralmente escrevo os posts de Novidades e Roteiros Gastronômicos de Curitiba, Segredos e outras coisinhas Sobre o Tudo e Sobre o Nada mas que são sempre Pequenos Prazeres.
Até que pensei em aliar dois conteúdos que dão pano pra manga e rendem looongas conversas. Cinema e Comida, Comida e Cinema. Porque assim… Pense bem. É muito raro lembrar de cabeça de algum filme que não tenha uma cena com comida, qualquer que seja. De qualquer forma, esta coluna vai ter foco nos longas (e claro que se aparecer um curta legal, também terá vez aqui) relacionados à gastronomia. Conversei com a Jéssica Giovanini sobre a ideia, lamentando por não ter tempo suficiente para me dedicar às resenhas, e não é que a solução veio rapidinho? A Jé estuda cinema e escreve na coluna Gastronomia Literária, aqui no ICKFD, e nada melhor do que unir o útil ao agradável ((:
Assim, dou início ao primeiro texto da Cinema & Comida, que contará com duas resenhas mensais (uma minha e uma da Jé) dos filmes que nos fizeram rir, chorar, refletir e, claro, correr para a cozinha! E sempre vai ter uma receitinha especial para completar a sua leitura. Espero que você goste e nos envie dicas de filmes para falarmos sobre, também. O primeiro foi indicação da Dani, que assistiu e adorou. Vamos lá?
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Os Sabores do Palácio
De vez em quando, gosto de imaginar como é a rotina de um chef de restaurante. Os desafios de coordenar uma equipe preparada para cozinhar legumes no ponto exato, grelhar a carne e deixá-la ao gosto do freguês ou fazer com que a pasta fique al dente, como mandam nossos amici italiani, são, no mínimo, de tirar o fôlego. Coordenar uma cozinha particular é outra história. E não, não me parece ser menos difícil quando você e todo o país (quando não o mundo!) conhecem a única pessoa para quem será preciso cozinhar.
Em Os Sabores do Palácio (2012), Hortense Laborie (Catherine Frot) é uma cozinheira que vive em Périgord, no interior da França, e trabalha com jovens estrangeiros aprendizes de gastronomia. De um dia para o outro, recebe uma proposta inédita e bem difícil de ser recusada. Madame Laborie, 40 e poucos anos, dona de grandes olhos castanhos e sorriso divertido, viciada em trufas (os cogumelos, não o chocolate) e culinária clássica francesa, é convidada a ser a cozinheira particular de François Miterrand, o presidente da França.
Ela tenta explicar a todos os homens de cargos importantes que não, ela não é a pessoa certa para isso, afinal, sua especialidade é preparar uma boa e fresca refeição para seus tios. Comida caseira. Apesar das argumentações, todos dizem a Hortense que sim, ela é a pessoa certa já que foi requisitada pelo senhor presidente porque, afinal, ele tem seus motivos. Mesmo sem saber os gostos de François Miterrand, ela precisa montar um cardápio, todos os dias assim que recebe a confirmação de quantos serão os convidados do presidente. Depois, ela tem duas horas para montar uma refeição completa, com entrada, prato principal e sobremesa, claro.
Entre Caldo de Alho com cubos de foie gras fresco, Magret com molho agridoce acompanhado de batatas sarladaise e um belo Saint Honoré de sobremesa, Hortense Laborie entende o motivo pelo qual foi contratada. O presidente da república francesa quer recuperar as memórias de infância e redescobrir o sabor das coisas, às vezes com uma simples omelete de cogumelos-de-bordeaux, como ela preparou no primeiro dia em que chegou à cozinha privativa do Elysée.
A gastronomia é um universo machista, e isso já discutimos nesse post aqui. Ainda assim, o filme mexe ainda mais por se tratar de uma história real. Ou seja, a Hortense existiu mesmo e sofreu um baita preconceito por parte de todos os homens que rodeavam o trabalho dela; desde os chefs tradicionalíssimos da cozinha central, responsáveis pelos eventos do Palácio, até os que cuidavam do orçamento do presidente.
Com personalidade forte e determinada, ela não desistiu. Seu ajudante e confeiteiro, o jovem Nicolas, dividiu o forno e as panelas enquanto trabalhavam horas a fio em busca de receitas impecáveis. Uma das minhas cenas preferidas é quando os dois experimentam a versão final da Jonchée Rochefortaise, um queijo branco feito de leite coalhado e perfumado com folhas de louro, servido com creme de amêndoas e geleia sob uma lâmina de tiras de junco trançado. A cena é tão reconfortante, que dá vontade de se transportar para a cozinha do Elysée e dividir aquele momento com eles.
A narrativa do filme segue uma estrutura linear, que se alterna entre os momentos atuais da vida de Hortense, já em outro emprego, e o tempo em que passou preparando as melhores refeições que Miterrand já provou. Na mesma linha, a trilha sonora é muito sutil ao longo de todo o filme. Nas cenas em que os pratos são feitos, por outro lado, é como se a música clássica tomasse a forma de maestro e conduzisse os movimentos da dupla na cozinha. Inspirador.
Ficha técnica:
OS SABORES DO PALÁCIO – Les saveurs du Palais
De Christian Vincent
com Catherine Frot, Jean d’Ormesson, Arthur Dupont.
2012 – Comédia – 1h35
Receita do SAINT HONORÉ
Eu sei, eu sei que deveria começar esta coluna já com uma receita exclusiva da sobremesa do filme e desde já peço desculpas. Mas não vou deixar vocês com vontade. É uma torta clássica francesa com base de massa folhada contornada com mini bombas (pâte a choux) recheadas com creme de confeiteiro e depois caramelizadas. O recheio da torta é de creme de confeiteiro com cobertura de creme de leite fresco com açúcar.
A Dani fez uma receita de Saint Honoré de Piña Colada. Clique na foto para conferir ;D