Crônica do Brigadeiro
Brenda abriu a lata de leite condensado com um abridor já desgastado e enferrujado pelo tempo. Despejou o creme, que caía com certo charme, na panela. Colocou uma colher generosa de manteiga sem sal e, por último, acrescentou o quanto quis de chocolate em pó. Pegou uma colher de pau, mas teria usado qualquer outra que estivesse ao seu alcance, e começou a mexer a tríplice em fogo brando.
Ela mexia com paciência, ensaiava movimentos repetitivos. Dançou a colher o quanto pode e quando cansou mexeu apenas de forma circular. As primeiras bolhas cheias de corpo começavam a saltar, liberando todo seu aroma da panela. Brenda, com certo alvoroço, se pôs logo a abaixar o fogo e tratou de mexer com mais eficácia. Por fim, virou a panela e confirmou o ponto do doce. O brigadeiro estava pronto, brilhoso, encorpado e cheiroso que só.
Despejou a tríplice homogeneizada e reduzida pelo calor do fogo em uma tigela de vidro. Raspou a panela e lambeu a colher. Queimou o céu da boca e a essa hora já pensava se a dor não estragaria a festa. Convenceu-se de que era bobagem e se acalmou para conseguir esperar o brigadeiro esfriar. Pegou no sono e acordou assustada conferindo as horas. Só havia passado pouco mais de 15 minutos. Desistiu do sono e foi ver alguns álbuns de fotografia da família. Horas depois o brigadeiro já lhe parecia em uma temperatura razoável para ser enrolado.
Passou, sem pudor, manteiga na mão e começou a fazer as bolinhas. Ela não tinha tanta prática e os primeiros dez brigadeiros não saíram de tamanho uniforme. Mas a cada um que enrolava descobria, de forma empírica, uma técnica ainda melhor para continuar enrolando, ou, pelo menos, concluía como não deveria fazê-los. Foram muitos, porém não contou para saber o quanto. Mas quando viu todos prontos achou o suficiente. Guardou em uma caixinha que escreveu “brigadeiro” com letra de mão.
Se vestiu, prendeu o cabelo e colocou um sapato confortável. Pegou a bolsa, a chave do carro e os brigadeiros. Confirmou se a caixa do doce estava firme no carro para que não se remexessem demais durante o trajeto. Saiu da garagem de seu apartamento e fez o mesmo percurso que fazia há três meses. Enfim chegou no hospital. Em direção ao andar pediátrico levou a caixinha de brigadeiros como troféu. Amarrou algumas bexigas na caixa e cantou parabéns para o filho de seis anos que estava, há meses, sonhando em comer o brigadeiro de sua mãe. A recuperação era boa e o brigadeiro celebrava a persistência da mãe e a melhora do filho.
foto: Half Baked Harvest