Mulheres modernas | Como fica o casamento?
Há alguns dias a Ana Ruth Rodrigues fez o seguinte comentário no meu texto sobre o sexismo:
“Parabéns Dani! É realmente muito difícil para nós mulheres recebermos nosso devido crédito! Ainda são muitos os desafios para alcançarmos o sucesso que merecemos, pior ainda quando ele tem mais destaque (é mais visível) que o dos nossos ‘companheiros’… O discurso sexista é sempre de que isso vai atrapalhar nosso relacionamento, prejudicará nossos filhos…
*Segue uma pergunta: como você e o Paulo lidam com isso? Acho muito bonita a relação de vocês!
Acho muito legal também o seu sucesso estar relacionado com coisas que historicamente (e certas vezes preconceituosamente) estão voltadas para o universo feminino. Falo isso porque outra luta nossa (ou pelo menos minha! rsrs) é que existe um certo medo de que ser feminina, gostar de fazer “coisas ditas de mulher” (como cozinhar, ter uma família, costurar) porque para algumas pessoas (geralmente mulheres) isso está automaticamente relacionado a ser submissa, a não se valorizar, a não ter poder e sucesso e a não possuir um relacionamento estável e feliz… Acho máximo você ter “aparecido” e estar mostrando o contrário! Beijos grandes e doces!”
Hoje passeando pelo facebook percebi que a minha querida Valentina Piras – @valentinapiras – tinha compartilhado um texto que eu já havia lido, mas esquecido.
O texto fala sobre todas as coisas que as mulheres são hoje e como os homens não as aceitam dessa maneira, ou seja, independentes e iguais. Para ler, clique aqui.
Me lembro bem que quando li esse texto senti que ele me representava apenas em parte e que deixa muitas lacunas em relação a pessoa plural que eu sou e ao marido que eu tenho. Por exemplo, não me representa um texto que diz que uma mulher não sabe fazer um bolo rsrs – só uma brincadeira para deixar isso tudo aqui um pouco mais leve.
Bom, quando reli hoje o texto, me lembrei da pergunta da Ana, que tem muito a ver com isso. Ou seja, como o Paulo lida com minha carreira, como eu lido em querer ser uma boa esposa, trabalhar e ser bem sucedida no que eu faço e ao mesmo tempo viajar, comprar o que quero, sair com as amigas. Enfim, tudo que todas nós queremos ser ao mesmo tempo e agora.
Pra explicar isso tudo vou ter que ir um pouco mais longe, na época que conheci o Paulo.
Nós éramos vizinhos quando fazíamos faculdade. Ele de direito e eu de moda. Nos tornarmos grandes amigos e assim fomos por um longo período. Nunca fui muito boa em contar o tempo, mas penso que por quase dois anos.
Eu nunca quis casar também, e sempre fui solta no mundo, bem do jeito que minha mãe não queria.
Cheguei em São Paulo e um dos meus primeiros empregos foi ser promoter de festas. Trabalhava praticamente todos os dias até umas duas da manhã. Ia sozinha em todos os lugares e chegando lá encontrava todo mundo. Sempre parei meu carro em ruas escuras e sempre voltei sozinha pra casa. Sem homem algum pra me acompanhar.
Apesar da minha mãe pagar meus estudos e meu aluguel, o restante sempre foi comigo. Eu pagava todo o resto, então com certeza um homem me sustentar nunca foi uma possibilidade, visto que eu me sentia incomodada inclusive com a minha mãe pagando algumas das minhas contas na época.
Acho que por essas já tem como vocês perceberem que provavelmente eu seria igual muitas das minhas amigas de moda e ficaria pra titia. Sim, termo horrível esse, mas que ao mesmo tempo nunca me apavorou. Se eu ficasse, sei que iria enfiar a cara no meu trabalho e iria ser tão feliz ou mais do que se fosse casada.
O mais importante pra mim, na verdade, sempre foi ser auto-suficiente. Tinha uma visão completamente adolescente de um casamento, e pensava: se não der certo eu pego meus livros e meus CDs e vou embora.
Nunca fui apegada a ninguém, até conhecer o Paulo.
Nos dois anos que fomos apenas amigos, passávamos dias e noites conversando em torno de teorias loucas sobre o mundo e a vida. Eu me apaixonei, mas ele não. Foi a primeira vez que meu coração ficou partido.
Arrumei um namorado, fui pra Londres com ele, passei três meses e voltei para terminar meu curso de moda. Iria voltar assim que terminasse e morar definitivamente por lá visto que também sou cidadã européia.
Quando voltei quem estava atrás de mim?
Nunca mais nos deixamos e isso já faz quase 10 anos.
Ao longo de todo esse tempo o que percebo é que continuo ao lado de grande companheiro, meu melhor amigo e amante.
O Paulo nunca foi o tipo de homem que pediu pra eu fazer uma comida pra ele, ou limpar a casa ou mesmo considerou uma ideia minha pior que uma dele.
Aqui em casa tudo é discutido de igual para igual. Eu poderia dizer que tirando alguma eventual TPM minha ou dele – sim, eles também têm seus dias – somos quase duas mulheres ou dois homens vivendo juntos.
Nós trabalhamos desde sempre juntos e dividimos todo e qualquer trabalho, seja ele intelectual, criativo, de produção ou até mesmo uma faxina mais pesada pela casa.
É certo que cada um tem suas peculiaridades e preferências. Eu por exemplo, adoro trabalhos manuais e me sinto muito feliz em pintar toda a prateleira sozinha e sem ajuda – na verdade, até prefiro. Enquanto ele gosta por exemplo de analisar dados, o que eu não tenho a menor paciência, mas compreendo a importância. No entanto, a grande maioria dos trabalhos e desenvolvimento dos mesmos são feitos em conjunto.
Sei que o que estou dizendo aqui é quase que: encontre um Paulo pra chamar de seu.
Mas não é verdade. Vejo inúmeras pessoas ao meu redor que encontraram pessoas assim para viver. Que pensam e entendem que o mundo mudou, que existe uma nova mulher que não é necessariamente sua e que ela não vai lavar sua cueca ou fazer seu jantar.
E o mais importante é saber que ninguém é perfeito e que uma hora ou outra algo vai tocar no fundo quando fazemos ou dizemos coisas que incomodam, simplesmente por essas estarem enraizadas na nossa sociedade há muito tempo e devem ser retiradas ao poucos mas continuamente de dentro das pessoas que estão ao nosso redor. E essa é a hora que você não pode deixar passar e precisa entrar no assunto, cavucar e procurar de onde veio aquele pensamento tão enviesado e naturalizado. Fazer o outro perceber que a sociedade mudou e que assuntos precisam ser debatidos e pensamentos serão mudados e esperançosamente extintos. E não pense que estou falando apenas de homens. Quantas mulheres não te perguntam todos os dias quando você vai ter um filho? Ou quando você vai casar no papel? Sei que essa é outra discussão, mas o que eu não sei é se quero replicar um comportamento antigo e falido da sociedade. Se um dia formos ter filhos vai ser porque decidimos ter e não porque não aguentamos mais os tios, avós, amigos, mamães e papagaios nos obrigando a ter, pois as pessoas no geral estão sempre a espera do próximo acontecimento na vida do outro. Eu escolhi viver a minha vida e não a do outro, ou a de um sistema viciado.
Mas a pergunta era: Como você e o Paulo lidam com isso?
Refletindo, só tenho a dizer que somos companheiros, amigos e cúmplices. Tenho certeza que se algum dia uma guerra acontecesse não teria outra pessoa que eu gostaria de ter ao meu lado pra lutar do que ele. Confio nele e não concorro com ele. Também não acredito que ele pense que eu estou em uma posição de destaque a frente dele. Apenas temos trabalhos diferentes e que na verdade se complementam. Eu mesma amaria se o Paulo tivesse seu próprio canal no YT, e seria sua maior fã, assim como sei que ele é o meu. Passaria horas vendo seus vídeos e ouvindo o que ele tem a dizer, que é sempre muito inteligente, sagaz e interessante.
No final das contas, acho que a grande solução aqui é você não ficar com alguém que será mais um concorrente seu, tentar competir com você como qualquer um fora da sua casa faria. E sim estar com alguém que vive lado a lado com você, que pode se apoiar em você assim como você pode se apoiar nele e que vai estar lá pro que der e vier. Case/viva com a pessoa que VOCÊ escolheu.
Acho que já me estendi por demais. Deixo a segunda parte da pergunta sobre como ser feminina e não submissa para um próximo capítulo.
Mas quero saber: e você já encontrou seu par (im)perfeito? Vocês são cúmplices um do outro?
Para finalizar, deixo aqui comentários bem distintos de dois homens que falaram sobre o texto que eu cito acima, no início deste.
Dessa forma percebo que existem ótimos homens por aí, resta a nós saber escolher. Qual desses você vai querer ao seu lado?
FOTO: Danielle Noce | @nocedanielle