O que escrever
Estava aqui pensando no que escrever – como sempre e como todos os colunistas nessa vida também devem fazer antes de… bem, escrever – que é pensar – eu sei, eu sei! Isso não é novidade!!! Mas acontece que muitas vezes eu me perco em meus próprios pensamentos tentando adivinhar com exatidão o que você, o que as pessoas, o que os que buscam respostas, gostariam tanto de saber; e que eu, na minha humilde posição, poderia responder.
Algumas tantas vezes os textos saem catedráticos, acadêmicos, difíceis de serem lidos, com verbetes encontrados a dedo no dicionário, ou seja: chatos e confusos. Outras vezes eles saem óbvios demais, sem graça… Como por exemplo: será que alguém tem real interesse em saber que na realidade, selar uma carne, não a sela… na verdade?
Outro dia então comecei a divagar com meu marido:
-Amor, você sabe que quando a gente sela uma carne, em uma panela bem quente, deixa ela com aquela casquinha linda e dourada? Na verdade… não adianta nada.
– Que?
– É… não adianta. Isso não é lá muita novidade, Mc Gee concluiu isso há tantos anos. Só que sei lá, será que todo mundo já sabe? E mais importante: será que sabem por quê?
-…
E então eu me pergunto. Vocês sabem?
Mas antes de falar sobre a carne, sobre a reação de Maillard – que tenho certeza que muitos já se familiarizam com ela, queria falar sobre “por quês”.
“Por quês” movem o mundo. No fim do dia, em minha opinião, saber os por quês é muito mais importante do que os porquês. Ok, não estamos em aula de português para saber que porque é por que, por quê…. enfim! O que estou tentando dizer é que as perguntas são mais importantes do que as respostas, afinal, é através delas que encontramos razões para viver, trabalhar e lutar, dia após dia, por alguma coisa.
No primeiro texto que escrevi para o ICKFD tive o mesmo “problema” – o que falar? O que as pessoas querem saber? Mas a resposta foi fácil. Decidi falar sobre uma das coisas que mais amo: bolos. Mas a questão é que eu penso que talvez teria sido melhor abrir a coluna sobre química, falando especificamente sobre a real razão de estar aqui, no ICKFD falando sobre química!
O que é química? E mais especificamente… o que é química na cozinha?
A primeira coisa a se entender é que a cozinha é um laboratório. Mas abra sua mente, não imagine um laboratório com fumaças dominando o ambiente – apesar de que na cozinha tem fumaça – com milhões de utensílios mirabolantes – ok, na cozinha existem milhões de utensílios mirabolantes – um monte de potinhos com pós desconhecidos – é, de fato na cozinha tem um monte de potinhos com pós desconhedos. Tá bom! Abra sua mente e não imagine um laboratório com um monte de gente concentrada usando roupa branca. Errr, bom, na cozinha tem um monte de gente com roupa branca, concentrada… Calma! Imagine então um monte de gente com roupa branca, concentrada E ouvindo forró. Apesar que…
Ahhhh, tá bom! A cozinha é um laboratório. Acho que não precisei de muito para te convencer, certo?
A segunda coisa a se entender é que na cozinha as reações químicas e físicas acontecem da mesma maneira em um laboratório de experimentos. As moléculas se fundem, confundem, formam novas moléculas, mudam de cor, de sabor e de aparência.
Quando a gente faz aula de química na escola, existem aqueles experimentos em que precisamos colocar um papelzinho nas frutas e legumes para descobrir o pH deles. Lembra disso? O papel muda de cor, alguns permanecem brancos. Então, passamos para outra fase de conhecimento e começamos a produzir um suco esquisito com repolho roxo… e fazemos o repolho mudar de cor. Lembra disso?
Pois a cozinha também é assim! Existe um prato super típico brasileiro que nada mais é do que uma pura é verdadeira reação química, e que eu acho que poderia ser mostrado nessas nossas aulas de química na escola. O Azul Marinho, conhece?
Esse prato é feito com peixe, bananas verdes em uma panela de ferro. A reação química entre os ingredientes do prato e a panela faz com que ele fique azul! Assim como na ciência pura provavelmente esse foi um acaso, e o acaso fez com que o prato fosse servido e para o acaso errado não parecer tão errado, alguém deve ter dito que o azul era proposital e que o prato se chamaria, Azul… marinho!
A cozinha é tão química e tão laboratorial quanto um laboratório químico. Dentro dela as reações acontecem alucinadamente a todo momento. Bolos crescem, ou solam. Pães fermentam e de repente ficam murchos. Peixes cozinham, ficam tenros ou então, viram sola! Tudo depende de como tratamos as moléculas e de como respeitamos o tempo que elas necessitam para fazerem seu papel!
E por isso, finalmente eu explico minha razão em estar aqui no ICKFD. Vou tentar levar a vocês um pouquinho desse fascinante mundo da cozinha a fundo, explicando por exemplo: por que a gente chora quando corta cebola?
Mas isso, eu conto depois! 😉
Foto: Club-Tropicana