O Mercador (Sovdagari): o que realmente é essencial para nós?
Sabe aqueles documentários escondidos na Netflix, curtinhos e extremamente surpreendentes? É o caso de O Mercador (Sovdagari). A história se passa na Geórgia e foi gravado em 2017 pela documentarista Tamta Gabrichidze. São 23 minutos – que poderiam se estender por horas – de belas imagens e uma realidade questionadora dos nossos costumes, do quanto valorizamos o capital, de que tempos estamos vivendo e sobre o que realmente é essencial.
A narrativa se passa em um vilarejo rural que tem como fonte de sobrevivência a produção de batatas. Um comerciante (o mercador) vai até o local com uma van repleta de materiais de segunda mão para vendê-los e receber o valor em batatas.“25 quilos de batata”, ele responde para consumidoras quando perguntam o preço de algumas botas ou echarpes. Este é o primeiro impasse do filme: eles possuem uma moeda que é muito desvalorizada, portanto, ainda vivem do escambo. Continue o texto para entender mais.
COMO É A REALIDADE NA GEÓRGIA?
A Geórgia fica entre o continente europeu e o asiático, tomada pelo Mar Negro, o que atrai muitos turistas pela pela paisagem. No entanto, não é bem a realidade retratada no documentário. A Geórgia fez parte da União Soviética, passou pelo movimento separatista e passa por uma grave crise financeira atualmente. Esse vilarejo mostra toda a escassez, falta de políticas públicas e desigualdade. Muito diferente do que costumamos ver ao pesquisar sobre o país.
A documentarista dá conta de mostrar as belas paisagens em O Mercador (Sovdagari), que fazem contrate com as casas em condições precárias e colorações acinzentadas, que trazem uma morbidade e melancolia para o filme. As imagens são preenchidas de histórias rapidamente pinceladas, mas com muita profundidade diante do contexto. São pessoas que levam a vida de outra forma, que quase nos fazem pensar que estão em outro tempo.
OUTRAS FORMAS DE ENXERGAR A VIDA
Celulares, televisões e até mesmo o dinheiro são coisas que não estão presentes na realidade dos moradores deste vilarejo. Há uma outra forma de encarar o dia a dia, o tempo e tudo que está a sua volta. As roupas são diferentes, como antigamente. As crianças brincam na rua e se admiram com bolhas de sabão. As plantações de batata são cultivadas inteiramente com as mãos. Não há máquinas, não há agronegócio e nem resposta quando a documentarista pergunta a um menino “o que você quer ser quando crescer?”.
O filme faz o papel de representar muito bem essa distinção entre o mundo de cá e o de lá. O mercador é o capital, é a cidade, é quem faz essa ponte. As mulheres, homens e crianças que vão até a van para comprar ou simplesmente admirar os produtos são representantes de uma vida sem tudo isso que nós consideramos essencial.
MAS O QUE REALMENTE É ESSENCIAL?
Uma senhora, sem dinheiro, sem batatas, queria e dizia ser essencial para sua sobrevivência um ralador. Mas não tinha como comprar e ficou sem. Algumas crianças se admiravam com uma esponja de pia. Outros, com papel higiênico. Uma mulher trocou um saco de batatas por um par de botas.
O Mercador (Sovdagari) faz questionar o que realmente é essencial. Estamos acostumados a muitas coisas que nos parecem primordiais para viver. Mas como os moradores do vilarejo georgiano vivem sem tudo isso? O que tem de tão diferente? E não precisamos ir tão longe. No Brasil também há diferenças gritantes sobre a posse e necessidade de materiais e costumes.
Os curtos 23 minutos não dão conta e nem se dispõem a resolver esses questionamentos. Pelo contrário, fazem questão de apenas levantá-los para que possamos discuti-los agora. O que realmente é essencial para nós?
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