Estamos na Era de Aquário?
Por Luisa Nucada do @nux.astrologia
No final de 2020, ressurgiu com força o tema da Era de Aquário, de que estaríamos chegando a a um novo tempo ou até mesmo de que essa nova era já teria começado. Isso traz um clima de renovação e esperança, ao passo que vemos transformações sociais e mudanças de paradigma: modelos de negócios mais colaborativos, maior compartilhamento de recursos, informações mais acessíveis e cada vez menos centralizadas… Além disso, o clima de apocalipse que a pandemia de Covid-19 instaurou pareceu estar botando fim a um tempo e inaugurando outro. Mas será que do ponto de vista da Astrologia faz sentido afirmar que estamos na Era de Aquário, ou transitando para ela?
Não – lembrando que falo do ponto de vista astrológico e expresso a minha opinião. Este assunto é polêmico e não tem consenso na comunidade astrológica, portanto, outros profissionais podem discordar. E por que não estamos na Era de Aquário? A resposta curta é: porque aqui no Ocidente, a Astrologia mais praticada faz uso do Zodíaco Tropical, baseado nos signos, e não nas constelações. A tal mudança de era vem de uma perspectiva associada às constelações, e não aos signos, e que, portanto, não cabe, não encaixa na Astrologia majoritariamente praticada deste lado de cá do globo (e que provavelmente é a Astrologia que você conhece e acompanha).
Signo e constelação não são a mesma coisa, o que será explicado mais adiante. O tipo de Zodíaco que se baseia nas constelações é o Sideral, mais utilizado no Oriente, por adeptos da Astrologia Hindu. Não é coerente misturar sistemas diferentes, aplicar a métrica de um no pensamento do outro. Seria como procurar o horóscopo do signo chinês de Dragão numa revistinha de Astrologia ocidental. Não é lógico e promove confusões.
Ainda que o referencial seja o Zodíaco Sideral, a “mudança de era” se daria daqui a mais de 430 anos. Desse ponto de vista poderíamos afirmar que estamos em uma lenta e gradual transição para a Era de Aquário.
Agora vamos à resposta longa.
Constelação é diferente de signo
Constelação e signo não são sinônimos. Constelações têm existência física, são conjuntos de estrelas. E há dezenas de constelações catalogadas. Doze delas estão no “rumo” do caminho aparente que o Sol percorre durante o ano, tendo como ponto de referência a observação da Terra. Veja bem, não estou dizendo que o Sol gira ao redor da Terra, estou dizendo que, observando daqui da Terra, o Sol parece fazer um caminho circular ao longo de um ano, e que no percurso dessa roda estão doze constelações. Dividiu-se os 360 graus dessa roda solar virtual em 12 pedaços iguais, cada pedaço associado a uma constelação. Esses pedaços “imaginários” são os signos, e a roda é o Zodíaco. Signos não têm existência física, são espaços virtuais, simbólicos. As constelações têm tamanhos diferentes, algumas são maiores, outras menores, porém, os signos têm exatamente 30 graus cada (360 dividido por 12 é igual a 30).
Há cerca de 7 mil anos, quando as observações do céu começaram a ser catalogadas pelas civilizações mesopotâmicas, signos e constelações estavam alinhados. A constelação de Áries estava logo abaixo do signo de Áries, a constelação de Touro no mesmo rumo que o signo de Touro, e assim por diante. Logo, não havia diferenciação entre Zodíaco Sideral e Zodíaco Tropical.
Porém, ao longo dos milênios, a roda dos signos (o Zodíaco) e as constelações zodiacais foram se desalinhando, devido a um fenômeno chamado de Precessão dos Equinócios.
O que é a Precessão dos equinócios?
Equinócio é o momento em que o dia e a noite têm duração igual. Ocorre duas vezes ao ano, no início da primavera e no início do outono. Quando o Sol ingressa no signo de Áries, temos o equinócio de primavera no hemisfério Norte e o equinócio de outono no hemisfério Sul. O ponto que o Sol atinge nesse momento é chamado de ponto vernal. Esse ponto vai se deslocando para trás no sentido das constelações zodiacais muito lentamente, numa ordem de 1 grau a casa 72 anos.
Isso ocorre porque a Terra não é retinha na vertical, está inclinada num ângulo de 23,5° (talvez você se lembre das aulas de Ciências). Além dos movimentos de rotação (em torno do próprio eixo) e translação (em torno do Sol), a Terra tem esse terceiro movimento, a precessão dos equinócios, na qual o ponto vernal vai “dando à ré”, recuando no sentido contrário ao da ordem das constelações.
O ponto vernal leva cerca de 25.920 anos para percorrer todas as doze constelações zodiacais, aproximadamente 2.160 anos para percorrer cada uma (o número é aproximado porque as constelações têm tamanhos diferentes, e suas fronteiras não são exatamente definidas). Essa passagem de mais de 2 mil anos do ponto vernal por cada constelação foi chamada de era.
Há mais de 2 mil anos, o ponto vernal estava alinhado à constelação de Áries; hoje está alinhado à constelação de Peixes; e se encaminha para chegar à constelação de Aquário daqui a cerca de 430 anos, quando supostamente se iniciaria a Era de Aquário. Linhas esotéricas, espiritualistas, místicas vêm falando de uma nova era, de transição planetária, da Terra ingressando na quinta dimensão, e acreditar ou não nessas ideias vai da fé de cada um. Correntes astrológicas que se mesclam com esses pensamentos podem ter discursos semelhantes. Porém, de um ponto de vista clássico da Astrologia, essa abordagem de mudança de era não é adotada.
Até porque a Astrologia é um saber hermético, fechado, ou seja, que não se altera com novas descobertas ou mudanças astronômicas. Júpiter poderia explodir e deixar de existir, por exemplo, que continuaria a ser levado em conta nos mapas astrais como representante da fé, conhecimento, justiça e viagens. O símbolo de Júpiter permaneceria inalterado, porque a Astrologia é um sistema simbólico, e não físico.
É também por esse raciocínio que não faz sentido todo o alarde da existência de um 13º signo, outra polêmica que vive pipocando na mídia: uma nova constelação teria sido descoberta, a constelação de Serpentário, e então um novo signo deveria ser adicionado ao Zodíaco. Adventos astronômicos não alteram o saber astrológico porque ele é hermético, fechado em si mesmo.
Mas estamos ou não num período aquariano?
Muito dessa confusão recente se deveu à conjunção (união) de Júpiter e Saturno em Aquário, em dezembro de 2020. Esses dois planetas são lentos, e só se encontram a cada 20 anos, um evento que é chamado de Grande Conjunção. Essa junção planetária do final do ano passado foi especial porque os dois planetas vinham se encontrando em signos do elemento Terra (Touro, Virgem e Capricórnio) nos últimos 200 anos. Ao se unirem em Aquário, abriram um ciclo de cerca de 200 anos em que se encontrarão em signos de Ar (Gêmeos, Libra e Aquário).
A Grande Conjunção de 2020 marcou então o fim de um ciclo de dois séculos de Terra, elemento da matéria, do dinheiro e do corpo, do que é concreto e passível de percebermos com os cinco sentidos corpóreos. Foi um período marcado pela materialidade, questões fundiárias, desenvolvimento do capitalismo, busca por estabilidade financeira etc. Agora, ingressamos em um período de Ar, elemento da interação social e do intelecto. Ar é sobre comunicação, ideias, teorias, conceitos, difusão de informações, e tudo isso é “invisível”, abstrato, não tem a concretude da Terra, não podemos “pegar com a mão”.
A aceleração do mundo digital, da presença na internet e mídias sociais, por exemplo, ou a substituição de livros físicos por e-books, são sintomas dessa transição da Terra (material) para o Ar (mental) pela qual estamos passando.
De modo que sim, até 2040, quando Júpiter e Saturno se encontrarem novamente (dessa vez em Libra), estamos vivendo um ciclo aquariano. Mas não estamos na Era de Aquário.
Luisa Nucada é jornalista e astróloga da Nux Astrologia. Escreve horóscopos diários em seu perfil do Instagram: @nux.astrologia