Crônica do Algodão Doce
Cerejas são tão boas que podiam dar em árvores, pensou alto a pequena Valentina. O pai, desajeitado, achou curiosa a observação da filha e entusiasmado em dar a boa notícia afirmou que sim, elas nascem em árvores. Valentina sorriu. Imediatamente a notícia fez com que seus olhos brilhassem. “Imagina, pai. Uma árvore toda cor de rosa com cerejas vermelhas?” O pai apertou as bochechas da filha. Naquele momento pensou que poderia vê-la mais do que apenas uma vez por mês.
Era um dia de céu aberto e sol laranja. Resolveram ir ao parque que, por sua vez, exibia uma grama verde bandeira, úmida e fresca. Tomaram um sorvete de frutas do bosque juntos. Valentina se sujava com o sorvete que derretia sob o sol e o pai não se preocupava em limpar, afinal, ele só via sua filha uma vez por mês.
Já era fim de tarde, mas Valentina parecia estar ainda no auge de sua empolgação com o passeio que lhe trazia tanto prazer. Foi quando deslumbrou-se com as doces nuvens de açúcar, tão coloridas, que um senhor abundante em carisma carregava aos montes. Antes de ela pedir seu pai perguntou: “Qual cor você prefere, filha?”. A pequena, sem pensar muito, respondeu: “A cor de rosa.”.
A vida da Valentina ao lado de seu pai era doce e rosa, como as cerejeiras e o sorvete que tomavam juntos. Entretanto, era uma nuvem de açúcar e derretia em poucas horas. Tinha a duração de um pequeno e curto dia a cada mês. A menina tinha uma mãe atenciosa e uma vida farta, mas a presença de seu pai ressoava na lembrança do gosto das frutas do bosque. Os outros dias, à espera de seu pai, tinham cor mais escura e gosto mais intragável. À espera pelo dia do algodão doce cor de rosa.
foto: Avito