KB Café – Paris
Um dos grandes prazeres parisienses é sem dúvida matar o tempo numa “terrasse” (nas mesinhas que ficam na calçada) de um café. No começo eu ficava impressionada com a quantidade de gente desocupada que via, sempre com as cadeiras dispostas de face para a rua (nunca nunca de costas!), com seus computadores, cigarros e seus espressos duplos. Na verdade, tudo não passa de um verdadeiro paredão de fuzilamento fashion, disfarçado de “dolce far niente”.
Sim, amigos, existem cafés bem tirados em Paris, apesar do que dizem os turistas. E aqui, gostaria de fazer um parênteses importante. Existem duas “Paris”: a dos turistas e a dos parisienses. A dos turistas é mágica, brilhante, dourada, poética, mas cheia de armadilhas. Tenho a impressão que os turistas não conseguirão nunca disfrutar dos pequenos bistrôs escondidos em bairros mais distantes da impressionante Opéra e do incontornável Louvre. Uma pena, pois gentileza e serviço atencioso não faz parte do vocabulário dessa galera. E além de tudo, os restaurantes “indicados” em seus guias acabam sendo sempre aqueles tradicionais. Até aí, tudo bem… já que estamos nas França, comeremos seus brioches, certo? Mas o que me chateia é que esses restaurantes têm servido comida congelada a preços exorbitantes e um café mais ácido do que caipirinha de fim de festa.
A Paris dos parisienses é caótica, agressiva e extremamente exclusivista. Após dois anos morando nessa capital, eu finalmente começo a fazer parte deste clube de VIP’s complexos que são os parisienses (eles só te respeitam quando você aprende a gritar no mesmo tom deles “é a tua mãe”!). E aos poucos, estão me revelando os seus endereços secretos. Uma das minhas descobertas preferidas é um pequeno café que se chama KB Café, e fica na região hoje conhecida como “Sud Pigalle”. Pra quem não conhece Paris, Pigalle é a região dos bordéis, sex shops e muita, mas muita gente esquisita. Porém, já faz alguns anos que a região tem passado por uma revitalização, com a abertura de bares, cafés, restaurantes, lojas, etc, mais moderninhas. Digamos que é quase a mesma coisa que acontece na região da Rua Augusta em São Paulo.
E é no meio desse caos todo, na nova-burguesinha Rue des Martyrs, que me apresentaram o Kooka Boora Café, ou para os íntimos, o KB. Amei logo de cara, pois me fez pensar em uma música do John Vanderslice que se chama “KookaBurra” e que vivo cantarolando sozinha. E segundo, porque quando entrei no café, recebi, aos invés dos habituais olhares de desprezo e indiferença parisiense, sorrisos e “bonjours” dos baristas. Meu coração (e carteira) já era deles. O dono do local é um francês (surpresa surpresa!) que morou na Austrália (aaaaahhhh tá explicado…) e aprendeu como ser gentil , a tirar um café decente, não, espera… aprendeu a arte de apreciar e servir um bom café quando trabalhou como barista em Sydney.
O resultado é um ambiente descontraído, com carinha de co-working, com muitos sofás e mesas cheias de tomadas para os parisienses ligarem seus computadores enquanto estudam/trabalham degustando um latte, ou o bom e velho, CAFÉ COM LEITE, num copo grande de vidro (aí é muito amor…), com aquela espuma densa perfeita e sempre um lindo coraçãozinho decorando.
Você pode sentar do lado de dentro do café, que tem uma janelona de vidro, uma vitrine digamos, que não te deixa se concentrar no seu trabalho pra chamar a atenção para todos os tipos curiosos e estilosos que passam nessa rua do bairro do 9ème. Sem falar na música ambiente, estou sempre como uma doida com o Shazam do telefone querendo toda a playlist deles. Mas quando sai uma pontinha de sol nessa capital cinzenta, é a “terrasse” que é disputada. Prainha de parisiense!
Pra acompanhar, fico muito feliz em precisar que tudo que é servido no local é feito no local. Ou como dizem por aqui “fait maison” e isso faz toda a diferença (é… acho que já tem muito tempo que estou por aqui e estou começando a perder a referência). Sanduíches, saladinhas, sopas (no inverno), cookies e bolinhos. O meu preferido, e que faz meu coração amolecer de saudades do meu Brasil, é o bolo de banana. Pronto, fui transportada novamente para São Paulo, me imaginando sentada em algum café ou boteco da Rua Augusta, tomando um café com leite, comendo um bolinho de banana enquanto reclamo do governador, do racionamento de água, do trânsito…
Mas bom, de volta à Paris com meus “bonjours”, “mercis”, “pardons” e malcriações em francês… e fica aí o convite para me encontrarem no KB se quiserem mais anedotas da cidade luz, acompanhadas de um café que honre a sua beleza e complexidade.
O KB Café fica na:
53 Avenue Trudaine, esquina com a Rue des Martyrs, 75009
Metrô Pigalle ou Anvers
Para alegrar, a tal música de John Vanderslice:
[youtube]EucgQcwLhEU[/youtube]