Sem açúcar, com afeto
Olá!
Não sei se já comentei aqui, mas em agosto de 2014 decidi começar um empreendimento chamado Casa Café e finalmente encarar os cafés especiais de maneira profissional. Posso dizer que a satisfação de servir um café quentinho e gostoso (principalmente nesse frio de Curitiba) é, por si só, uma grande recompensa.
Fonte: instagram.com/arabicasimples
Muita gente aproveita o momento para tirar dúvidas a respeito do preparo da bebida em casa, e as perguntas são tantas e tão variadas que daria pra fazer um post só com isso. Mas se tem uma pergunta que é a campeã de todas, é a seguinte: café se bebe com açúcar ou sem açúcar? E eu sempre respondo: depende. 🙂
Milkshake ou chá de losna?
Em primeiro lugar, o fruto do café possui características naturais de doçura e acidez. Isso varia de uma espécie para outra, pois diferenças de clima, umidade e altitude produzem frutos diferentes. A maneira como o café é colhido e processado também gera resultados diferentes – um café colhido à mão, por exemplo, passa por uma seleção muito mais rigorosa do que um café colhido por uma máquina.
Fonte: Anthony John Coletti Photography
Mesmo depois de separados da polpa, os grãos de café (ainda verdes) contém quantidades razoáveis de açúcares simples. Esses açúcares vão reagir de várias maneiras ao calor da torra, resultando em diversos compostos aromáticos que definem o sabor do café. Isso quer dizer que o café possui, em maior ou menor grau, uma doçura que decorre desse processo. Ou deveria possuir.
Acontece que o paladar brasileiro já está acostumado a cafés muito amargos, adstringentes e com características aromáticas indesejáveis. Isso decorre de torras muito escuras, feitas para esconder o grande número de defeitos que o café de mercado possui. Além do mais, não é exagero dizer que nossa cultura alimentar privilegia os sabores doces. Pense rápido: chocolate ao leite ou jiló? Milkshake ou chá de losna? Viu?
Fonte: Bespoken Coffee Roasters
Então, a doçura é um traço muito, mas MUITO mais identificável nos cafés especiais do que nos cafés de mercado. Em degustações, os cafés nunca são provados com açúcar. Ele encobre a doçura natural da bebida, que é algo bastante importante para definir sua qualidade. Mas são muitas variáveis. Cada pessoa tem um nível de tolerância a sabores amargos e ácidos, o que também define o gosto de cada um.
Nesse sentido, estou com a gigante Isabela Raposeiras: prefiro sugerir que a pessoa prove um golinho do café antes de adoçar e depois decida por conta própria, sem traumas ou constrangimentos. Os bons cafés vão falar por si mesmos. No fim das contas, se beber uma xícara de café pode ser uma experiência de prazer pessoal, por que deveria ser diferente?
Fonte: Market Lane Coffee
Até logo!