Crônica da água de coco
Era primavera, colorida e florida. Era um dia mais quente do que de costume, a temperatura era atípica, o tempo dolorosamente mais seco e a brisa do mar era quente e fazia com que o suor, em contato com o sal do mar, grudasse no corpo de forma mais incômoda do que em qualquer outro ano. O verão queria aparecer mais cedo, escondendo o frescor e os aromas das flores da primavera.
Bianca, de pelos dourados e pele clara, corria na areia como se não existisse calor, como se a areia não grudasse em seu corpo e como se o sol não ardesse em sua pele. Ela era magra, muito magra, com peitos achatados e costelas salientes. Ela suava, a água de seu corpo saia de seus poros já dilatados escorrendo pelo seu pescoço, eram gotas salgadas como o mar, que exibia sua imensidão à direita de Bianca. A vermelhidão de seu rosto acusava, a essa altura, um ser humano dentro dessa anormal disposição da garota.
Depois de muito tempo parou, passou o pulso horizontalmente na testa tirando o suor excessivo do rosto. Soltou o rabo de cavalo que, por sinal, já estava frouxo. Com um charme que consumia minha atenção correu em direção ao mar, como eu corro em direção à barraquinha de porções fritas na beira da areia. Mergulhou e sentiu prazer com a temperatura da água. Depois de se refrescar como se a água salgada fosse doce, saiu, ajeitando-se.
Ela pulou com um pé só e tirou a água salgada e já quente do ouvido. Sentou-se em uma das cadeiras com outras tantas amigas. Feliz, olhou a porção encharcada de camarão empanado e comeu como se todo aquele óleo quente fosse uma água de coco gelada. Eu, sentada, não pude entender muita coisa. Já em dúvida sobre mim, olhei para baixo e percebi algumas dobras na barriga, achei mais flácida do que ontem. Arrotei com azia as primeiras mordidas do pastel que havia começado. Fui tomar uma água de coco com canudinho para que, ao menos, exercitasse as bochechas.
foto: She Knows