Entrevista cedida para Patrícia Homsi da Cásper Líbero
P.H. – Como surgiu a ideia de começar o blog? Desde o nome, até o conceito inicial?
D.N. – O site ICKFD surgiu a partir do momento em que eu comecei a fazer confeitaria e as dúvidas que eu tinha em aula eram maiores do que as minhas certezas e maiores do que as respostas dos professores. Eu sempre fui muito questionadora e sempre quis saber mais sobre o porquê do processo de cada receita e não tanto a parte puramente pragmática e de decoreba. E esse tipo de resposta ou eu só consegui encontrar em livros ou as vezes em alguns site e blogs de fora do Brasil. Foi assim que surgiu o ICKFD, mais até para que alguém pudesse responder às minhas perguntas ao invés de eu responder às pessoas. No final, acabou acontecendo o contrário, mas eu acabo aprendendo muito com as perguntas dos outros, pois quando não sei a resposta tenho que ir pesquisar e acabo aprendendo bastante, e principalmente fixando o assunto na minha cabeça; tudo isso torna-se um processo de ajuda mútua. Bom, depois disso vieram os vídeos, pois eu ficava testando receitas em casa e o Paulo (meu marido) junto com um amigo nosso, o Rafel, tiveram a ideia de me filmar e deu certo.
P.H. – Você mantém o site sozinha? Quem ajuda nas receitas?
D.N. – Até semana retrasada o site era feito inteiramente por mim. Tirando os vídeos, que são filmados e editados pelos meus amigos, tudo era feito por mim: dicas, fotos, receitas, tudo. Agora, começamos a crescer um pouquinho. Há duas semanas, eu tenho uma correspondente em São Paulo, a Camila Costa, que sempre que chega algum convite de alguma degustação para mim é ela quem vai no meu lugar; Tem a Fernanda Flaiban, que mora em Nova York e sempre que descobre alguma coisa nova de lá, ela faz um post para o site; A Talitta Albuquerque, que se mudou para Paris há uma semana e agora me ajuda com as receitas do site e também faz post de dicas sempre que passa por algum lugar que ela gosta; e o Paulo Cuenca, meu marido, que além de diretor do programa, agora, me ajuda com as fotos das receitas; eu faço o food styling e ele ilumina e fotografa.
P.H. – As receitas são escolhidas como?
D.N – Isso depende muito, muitas receitas são pedidas para fazermos, outras são receitas que eu estou com vontade de fazer e outras são enviadas para mim e gentilmente cedidas para serem colocadas no site.
P.H. – Você acha que é preciso ter alguma formação culinária para dar dicas de gastronomia e de lugares para ir?
D.N. – De jeito nenhum, essa é a beleza da implosão da exclusividade de informação do jornalismo tradicional. Finalmente o especialista, o discurso de autoridade e a comunicação concentrada em grandes mídias caiu por terra. Hoje em dia todos são potenciais produtores de conteúdo e isso é muito rico, porque coloca em cheque o ponto de vista “imparcial” do jornalismo acadêmico, que quer fazer acreditar, segundo um código de ética, que está acima de gostos pessoais, influências políticas, econômicas e sociais. Nesse sentido, cabe ao leitor/espectador/produtor, escolher com qual tipo de conteúdo quer dialogar. Esse é um debate que não está restrito à informação gastronômica, mas à todo tipo de conteúdo, e em pouco tempo o público descobre se determinada fonte é confiável ou não, mas de um parâmetro de coerência interna de comunicação, e não de um discurso de autoridade. Especialmente no âmbito da comida, temos que pensar que é um “assunto” muito mais sensorial do que racional, além de carregar uma grande carga cultural e afetiva, que determinam o paladar e a memória afetiva de cada um. Então eu pergunto: como dizer que apenas especialistas podem falar sobre comida? As pessoas tem que ter cada dia mais voz, e não meia dúzia de formadores de opinião que querem padronizar o “bom gosto” e definir o que seria a boa gastronomia.
P.H. – Qual você acha que é o público alvo do ICKFD?
D.N. – O público do ICKFD é em sua maioria mulheres e meninas entre 13 a 35 anos. Mas no geral é um público de curiosos, que gosta(ria) de viajar, comer bem (segundo o padrão de cada um), e principalmente fazer seus próprios quitutes e ter o prazer de cozinhar em casa.
P.H. – Por que um blog de comida?
D.N. – Não é um blog de comida. É um blog de confeitaria e panificação. Simplesmente porque o blog é uma extensão daquilo que eu amo e faço todos os dias e porque tenho bastante vontade de dialogar com as pessoas e de democratizar informação.
P.H. – O que você acha da crítica gastronômica atual?
D.N. – Levando em conta tanto as mídias tradicionais quanto o universo de blogs, acredito que está cada vez mais difusa, democrática, pirateada, contestada, subjetiva e impossível de conhecer todos os seus autores.
P.H. – Você acompanha ou acompanhava algum blogueiro ou crítico?
D.N. – Acompanho em grande maioria blogs de fora do país, como o Oh Joy ou o Bakerella. Além disso, para mim o grande parâmetro de crítica gastronômica atual e que sempre leio são os sites de críticas colaborativas, como Qype, TripAdvisor, entre outros, que funcionam mais como avaliadores; nesses lugares eu normalmente vejo alguns comentários em cada faixa de avaliação para formar o quadro geral, e os comentários são tão diferentes entre si que fica difícil acreditar na palavra de um crítico especializado depois disso. Na verdade, nem considero o que faço crítica gastronômica, são dicas sobre experiências pessoais e lugares que realmente gostei, além de tratar também sobre receitas, segredos e dúvidas do universo da confeitaria.
P.H. – O que você acha que chama atenção no ICKFD?
D.N. – Talvez a espontaneidade que eu trato sobre tema e o carinho que eu coloco ali. Sempre tento melhorar cada uma das áreas do site para trazer o melhor que posso oferecer para os meus leitores.