PANC’s: tudo que você precisa saber!
Existem cerca de 300 mil plantas alimentícias pelo mundo, no entanto, nós consumimos quase sempre as mesmas. As opções que temos convencionalmente são várias, mas que tal variar um pouco e experimentar as chamadas Plantas Alimentícias Não Convencionais, as PANC’s? Além de aumentar o nosso leque de opções, os benefícios para nós, o meio ambiente e o futuro do planeta são realmente incríveis e inspiradores. Vamos entender um pouco mais?
O QUE SÃO?
PANC é exatamente o que propõe sua sigla: Plantas Alimentícias Não Convencionais, ou seja, que comumente não encontramos no supermercado. E para conceituá-las de forma melhor podemos começar através de um exemplo: o picão – aquele “mato” ou “erva-daninha” que você encontra na calçada com uma florzinha amarela e branca – é comestível e tem sabor e nutrientes tanto quanto uma alface. No entanto, poucas pessoas pensam em consumi-lo e não existe uma produção em larga escala, logo, é uma PANC.
Apesar de já existirem há muito tempo, o termo PANC foi dado recentemente pelo biólogo Valdely Kinupp e segue tendo crescimento constante em buscas nos últimos anos. Ainda assim, é importante pensar que essas plantas não foram de fato descobertas agora. Não se sabe exatamente como e quais, mas muito provavelmente várias já foram consumidas em outras épocas por povos nativos. O que está sendo feito é encontrá-las novamente e catalogá-las.
Há também muitas plantas que já consumimos e que antes eram “não convencionais”. O açaí é um ótimo exemplo, já que agora é bastante comum em várias partes do Brasil e do mundo. Mas antes era conhecido apenas por povos originários do Norte do Brasil. Algumas plantas também são conhecidas e cultivadas, mas não são consumidas todas as partes. Da bananeira, por exemplo, podemos consumir além do fruto o “coração” e o palmito (parte interna do caule).
A DIVERSIDADE AGROECOLÓGICA
Dentro dessa definição de PANC não tem como fugir da discussão relacionada a agroecologia e uso da agricultura por pequenos produtores, de forma consciente e não industrial. As PANC’s são uma resposta do ambiente para os modos de produção atuais baseados em plantações imensas de uma cultura só – a monocultura.
Elas nascem, muitas vezes, em condições “pouco favoráveis”, entre aspas mesmo, afinal se ela se desenvolve é favorável, não? Exato! Uma colocação das PANC’s no sistema de monocultura iria tirá-la de sua condição e provavelmente dar outras características e problemas para a produção. Por isso, as que nascem atrás da sua casa, em florestas ou até mesmo em plantações de uma só espécie, estão nos mostrando que as plantas precisam “viver em sociedade”, juntas.
O fato de as plantas serem consideradas não convencionais também diz respeito a cultura e condições climáticas do local. Antes do açaí se espalhar, existia apenas no Norte. E na Rússia, por exemplo, podem existir PANC’s diferentes das que consumimos aqui. E é isso mesmo: cada clima, ecossistema e cultura com as suas próprias plantas nativas – este é o mundo ideal.
O QUE TRAZ DE BOM?
E quais são os benefícios para o meio ambiente e para nós ao consumirmos PANC’s? Se pensarmos pelo lado da saúde, os benefícios são diversos e já conhecidos por nós. Consumir vegetais, plantas medicinais e livre de agrotóxicos são recomendações básicas para uma alimentação mais saudável. No entanto, existem ainda outros pontos importantes.
O primeiros deles é sobre a diversidade alimentar e a fuga da monotonia. Com as PANC’s é possível descobrir outros alimentos, outros sabores e assim transformar a nossa alimentação em algo muito mais rico do que já é. Além disso, o fato de que podemos encontrar variedades de PANC’s no lugar que moramos, é uma das formas de combater o desperdício, de gerar autonomia e contribuir para o consumo consciente dos alimentos.
COMO ENCONTRAR?
Certo, mas é só procurar pela rua alguma plantinha? Quase isso. As Plantas Alimentícias Não Convencionais podem estar em qualquer lugar mesmo. Pode ser no seu quintal, em uma horta comunitária, no meio da sua horta convencional ou em estabelecimentos (ou feiras) de pequenos produtores perto de você. As que você encontra nas calçadas não são indicados para consumo por conta da poluição 🙁
O caminho para consumir uma PANC é: (1) encontrar algo que você pense ser uma; (2) perguntar para alguém que entende ou procurar em livros (como esse) para saber exatamente qual é e se pode ser consumida com segurança; e então (3) testar em receitas. Você pode também já saber qual você quer experimentar e colocar nas suas redes sociais perguntando aos amigos se alguém tem. Ou perguntar ao feirante se ele conhece algum pequeno produtor que venda. Plantar em casa ou apartamento também é uma possibilidade, viu?
- Saber qual é a planta e a forma de consumi-la é essencial, por isso, tome bastante cuidado! Existem algumas plantas que podem ser tóxicas ou que precisam de algum preparo especial para serem digeridas com segurança.
O PROBLEMA DA GOURMETIZAÇÃO
Há uma imensa discussão sobre o quanto as PANC’s representam para a cultura e se mostram ativas no movimento político. E, ao passo que se tornam populares, estarão sujeitas a entrar na onda dos grandes produtores e acabar virando uma “moda”. Não será um movimento de todo ruim, afinal, mostra que elas estão ficando mais populares.
Mas é muito importante respeitar a origem e saber que PANC’s não foram descobertas ou nomeadas dessa forma para esse fim, ou seja, é necessário ter o pensamento crítico diante da indústria e da gourmetização. A ideia é fazer com que não tenhamos caminhos parecidos com o do açaí, por exemplo, que recebe muitos aditivos e se torna base para produtos não mais considerados saudáveis. Consequentemente, o alimento se torna parte de uma indústria que utilizada da “fama” do alimento para vender cada vez mais. A solução seria procurar consumir sempre os produtos da nossa região.
- Uma reportagem feita pelo site O joio e O trigo traz uma reflexão muito interessante: leia aqui.
ALGUMAS PANC’S PARA CONHECER
Visto o que realmente são essas maravilhas, como encontrar e a discussão sobre algumas problemáticas que envolvem o tema, o mais importante agora é democratizar essa informação do que são e principalmente quais são as PANC’s. Imagina andar pela rua, olhar para uma planta e saber exatamente o seu nome e para que usar. Seria lindo, não?
Então, separamos algumas mais conhecidas e fáceis de encontrar para te ajudar a começar! E claro, existem MUITAS opções e a cada dia são descobertas novas variações – vale sempre pesquisar!
ORA PRO NÓBIS (PERESKIA ACULEATA)
Além de muito ornamental, a ora pro nóbis já é bastante conhecida em muitos lugares do Brasil. Possui uma folha bastante suculenta e pode ser consumida crua ou em pratos cozidos.
PEIXINHO (STACHYS BYZANTINA)
É chamada de peixinho por sua aparência e gosto depois de empanadas e fritas. Sim, tem sabor de peixe! Essa é a forma mais consumida da planta e cabe muito bem para comer como aperitivo com um molho especial ou no almoço.
TAIOBA (XANTHOSOMA SAGITTIFOLIUM)
A taioba é uma das maiores dessa lista. Lembra um pouco uma costela-de-adão por conta do formato das folhas, mas também um inhame. As folhas podem ser consumidas (sempre refogadas ou cozidas), o talo e até o seu tubérculo.
PICÃO (BIDENS PILOSA)
O picão é aquele que com flores brancas ou amarelas e que a gente sempre luta para arrancar do quintal. E sim, podem ser consumidos em chás, sopas e outros pratos cozidos (sim, o picão precisa passar sempre pelo processo de cozimento).
CAPUCHINHA (TROPAEOLUM MAJUS)
A capuchinha também está sendo bastante consumida nos últimos tempos, tanto as flores quanto o restante da planta: folhas, frutos e vagem. As folhas caem bem em sucos, as flores podem servir com recheio e os frutos substituem as alcaparras.
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E você, já consumiu alguma PANC? Comenta aqui o que você achou.