História dos doces franceses
A confeitaria francesa é tão cheia de detalhes e regras que não há uma pessoa sequer neste mundo (as generalizações são perigosas, eu sei, mas ah! O assunto em questão merece um carinho todo especial) que resista a um doce feito com tanta dedicação. Há séculos, reis, rainhas e nobres escondiam algumas das sobremesas desde post para que apenas eles pudessem desfrutar do momento único que é comer. Mas como o que é bom cai na boca do povo uma hora ou outra, aqui estamos nós, compartilhando receitas e lambendo os beiços de alegria por sempre experimentar algo diferente.
Além dos doces a seguir, existem inúmeros outros que completam a lista das criações francesas, mas escolhi contar um pouco da história desses por conta da série de receitas que a Dani fez no canal em novembro. Espero que gostem e bon appétit à tous!
CRÈME BRÛLÉE (lê-se crrrém brrruilê)
Dizem que a felicidade está nas coisas simples da vida e esta sobremesa comprova cada palavra dessa frase. Embora seja considerado francês, sua origem é um tanto incerta. O fato é que França, Espanha e Inglaterra disputam a honra de se vangloriar pela origem do creme de baunilha coberto por uma camada espelhada e crocante de açúcar queimado – delicado e inesquecível. Crème Brûlée, Crema Catalana e Burnt Cream são os diferentes nomes de um mesmo doce.
Quanto às evidências históricas, leva-se em consideração a primeira menção do creme, feito pelo chef francês François Massialot no livro “Le Nouveau Cuisinier Royal Et Bourgeois Ou Cuisinier Moderne”, em 1691. Quem será que teve a ideia primeiro?
MILLE FEUILLE (lê-se míie fôie)
Cinco voltas cuidadosas numa massa recheada com manteiga, feitas cada uma a seu tempo certo de descanso entre um pincelar de farinha aqui, outro ali. As dobras feitas simetricamente vão se esticando, esticando, esticando até que a massa se torne tão fina quanto uma folha de papel. Na verdade, são muitas folhas; 729, para ser exata. O confeiteiro Antoine Carême (1784-1833), conhecido como “o chef dos reis e o rei dos chefs”, arredondou o número para mil e criou uma sobremesa que intercalava três camadas crocantes e duas de creme (simplesmente a combinação perfeita de texturas). O sucesso foi imediato.
A origem da massa folhada, porém, está mais para os lados da Grécia e Oriente Médio. Dizem que ela descende da Baklava, aquele docinho (incrível) feito com pasta de nozes, pistaches ou amêndoas, mel e massa folhada. Sinto que devemos gratidão eterna a quem quer que tenha tido a brilhante ideia de criar algo assim.
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TORTA MOUSSE DE LIMÃO COM CRÈME AU CITRON (lê-se crrrém ô citrrrôn)
O limão é muito utilizado na confeitaria francesa e, como vocês bem sabem, esse povo não resiste a um creme em qualquer preparação gastronômica, seja ela salgada ou doce. Há séculos, eles descobriram que o toque cítrico combina com açúcar e manteiga de um jeito especial. Voilà, nasceu o crème au citron. Outra paixão dos franceses são as tortas e mousses, portanto nesta receita ocorreu a união do útil ao agradável, do amanteigado ao azedinho cremoso. Que tal?
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ÉCLAIR (lê-se êclérr)
Surgiu no século XVI como uma novidade, digamos assim, às tradicionais “choux”, que costumavam ser recheadas com creme de confeiteiro e regadas com chocolate. Isso te lembra alguma coisa? Se você pensou em profiterólis, bingo! O confeiteiro Antoine Carême, o mesmo da massa folhada, inovou novamente ao dar um novo formato à patê à choux. Nasceu o éclair (conhecido assim apenas 20 anos depois da morte de Carême).
Aliás, atenção à ótima curiosidade sobre o nome, que pegou fama por conta de um slogan: “Et un bon éclair se dévore toujours en un éclair!” (E uma boa bomba se devora sempre num relâmpago!). O nome em português, de um jeito ou de outro, faz uma referência parecida. É sempre uma explosão de sabores, né? Essa, recheada de crème brûlée, então…
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MACARON (lê-se macarrôn)
Tem origem na Itália, onde os discos de merengue eram consumidos sem o recheio. Daí o nome “maccherone“, que significa “massa fina”. A responsável pela difusão desse biscoitinho divino foi a italiana Catarina de Médici, quando foi morar na França para se casar com o Duque D’Orleans, futuro rei. Tudo isso aconteceu no século XVI e a receita era mantida em segredo para que apenas a nobreza aproveitasse.
Conta a história que as primeiras francesas a produzir macarons foram as freiras do convento Saint-Sacrement. Somente após a revolução francesa, em 1789, o docinho passou a ser feito fora dos conventos. A versão final, como a gente conhece hoje, foi idealizada por Pierre Desfontaines (no século XIX), ninguém mais, ninguém menos do que o confeiteiro da famosa Ladurée, em Paris. Ele resolveu unir os dois disquinhos de merengue com recheios cremosos. Não é que deu muito certo?
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FRAISIER (lê-se frrrésiê)
Como explica a Larousse Gastronomique, o fraisier é composto de uma genoise (clássico bolo francês feito sem fermento – clique aqui para ver a receita do pavê de Sonho de Valsa que utiliza a genoise) embebida em Kirsch, bebida destilada a partir de cerejas negras. Por cima do bolo, uma quantidade generosa de creme mousseline e, como decoração, uma camada de marzipã no topo e morangos suculentos nas laterais. Quem popularizou a sobremesa foi Lenôtre, na década de 60, mas com um toque diferente; a genoise era verde, por conta do pistache. Foi batizado de Bagatelle, portanto é comum usar esse nome ao preparar um fraisier.
Nesta receita linda, a Dani optou por finalizar a sobremesa com uma camada de gelatina de morango. Que tal?
E aí, você já tem um preferido? Beijocas e até a próxima!
Fontes: Paradis, Vivendo em Delícias, Food Timeline, Confraria do Barão de Gourmandise, Show Gourmet