Prenzlauer, Mercados de Pulga e Radiohead
Cheguei em Berlin no sábado pela manhã, mas estava tão cansada que mal comi uma coisinha pela rua e fui pra casa dormir. Aluguei um apartamento lindinho em Prenzlauer Berg, na parte oriental de Berlin. O apartamento tem móveis e utensílios todos da época do comunismo, são móveis práticos e lindos, todos com linhas retas. Todos os cômodos são simples, com poucos objetos, mas muito interessantes. O mais legal de tudo são os relógios de água quente e fria localizados estrategicamente em dois pontos da casa: um ao lado da pia da cozinha e o outro em cima do vaso no banheiro. Imagino que isso também seja da época do comunismo, onde tudo era racionado e as pessoas não podiam gastar nada, inclusive água, sem saber quanto estavam gastando, mas principalmente sem saber o limite de quanto podiam usar por mês. Achei extremamente interessante, como uma época de racionamento pode se parecer tão pouco com a época em que vivemos hoje, mas que ao mesmo tempo, como seria útil nos dias em que vivemos, em que já sabemos que a água, bem como todos os outros recursos naturais da Terra são limitados e escassos. Na verdade, gostaria muito de ter esses contadores de água hoje em dia em casa e acho que seria muito útil se todos tivessem, pois percebi rapidamente que a cada descarga eu gastava 5 litros de água. Vou repetir: 5 LITROS! Se você não se assustou, eu acho que deve rever os seus conceitos, pois 5 litros para uma simples descarga é muuuuiittaaaa água.
Depois desse primeiro choque de realidade, acordei no domingo e já tinha lido que as feiras e mercados de pulga, bem como os parques eram um programa muito interessante para uma domingueira ensolarada. E o dia estáva muito bonito. Então fui dar uma volta pelo Mauer Park, onde tinha uma feira com objetos artesanais, bem como coisas de segunda mão e muitas barraquinhas de comida. Comi uma daquelas salsichas tradicionais alemãs – Currywurst – e fui curtir um pouco o balanço que fica no alto do parque e ouvir as diversas apresentações de bandas que estavam acontecendo por lá. Depois dei uma passada na feira da Arkonaplatz, que tem em sua grande maioria objetos de segunda mão de casa, como pratos, talheres e móveis. Achei garfos e colheres incríveis para fazer o foodstyling das fotos do site.
Em seguida, peguei uma bicicleta e desci em direção a Kreuzberg e fui parar em um maravilhoso e enorme mercado de pulgas, o Arena Flea Market, perto do centro empresarial . O lugar é tão grande e tão irreal que só mesmo um diretor de arte de cinema para aproveitar todas as coisas absurdas que tem por lá. Terminei meu domingo no show do Radiohead em Wuhlheide, uma arena no meio de um parque. Foi o show mais lindo que eu já vi, mesmo com o Thom Yorke morrendo de frio e falando disso o tempo todo auhauhauhaua ;D
Hoje, não consegui acordar cedo por causa do show, então acabei ficando pelo bairro e conhecendo algumas coisas por aqui. O Prenzlauer é um bairro muito arborizado e cheio de barzinhos, restaurantes e lojas para ver. É o bairro que mais tem filhos por habitante de toda a Europa, então você vê carrinhos de bebês e crianças passando por todos os lados o tempo todo.
Fui almojantar no Zula, um restaurante bem conchegante e super barato que vende um Homus delicioso na Husemannstrasse 10. O pão pita veio quentinho e o homus cheio de acompanhamentos para se ir misturando. O molho de pimenta verde estava na medida também. Depois me deixei levar pelas pequenas ruas em volta da Kollwitzplatz, Kastanienalle e da Oderberger, cheias de lojinhas de papelaria e de louças para casa, tudo que eu preciso para viver 🙂 A Kollwitzplatz é uma praça pequenina, cheia de árvores e crianças brincando, uma delícia para passar a tarde lendo um bom livro.
Fui até o cemitério judeu na Schonhauser Alle 22 e na igreja de Gethsemani na Stargarder Strass 77, que à época da divisão de Berlimm virou ponto de encontro de oponentes da Alemanha Oriental, mas que acabou tendo em seu clero antigos dissidentes da igreja, que eram a favor da esquerda comunista e que apoiavam e ajudavam esse grupos. Um símbolo de resistência dentro da igreja e de Berlin. Tanto é que até hoje o Prenzlauer ainda é considerado um bairro com um pensamento diferente do resto da antiga Berlin ocidental. Um exemplo disso, é o lugar que tomei o café da manhã no primeiro dia em que cheguei aqui, o Morgenrot (na rua de casa ao lado do squat mais antigo de Berlin, o Ka86) onde você escolhe quanto vai pagar (entre 5 e 9 euros), e essa quantia não depende do quanto você comeu, mas sim de quanto você ganha. Ou seja, se você ganha mais você paga mais para que uma pessoa que ganha menos possa pagar menos e comer também. Além dessa iniciativa mais do que generosa por parte dos donos, o café da manhã é servido em um buffet vegano onde você pode se servir quantas vezes quiser, apenas o suco você deve pagar à parte. Esse é um bairro onde os restaurantes e cafés possuem grandes mesas comunitárias com bancos grandes um de frente para o outro, muito diferente dos cafés e bistrôs parisienses, com suas minúsculas mesas redondas com duas cadeirinhas viradas para a rua, onde as pessoas se sentam e observam os outros passarem ao invés de olhar para a pessoa que está ao seu lado e conversar com ela. Aqui em Prenzlauer, você não fica no café para ver e ser visto, você está no café aproveitando o momento com a pessoa que você escolheu para estar lá com você, dividindo o espaço e compartilhando com o outro. Por fim, dei uma passada na Victoria met Albert, que tem louças e roupas lindas e bem em frente tem a Goldhahn & Sampson, uma loja de especiarias, compotas e docinhos especiais, além de vários com mimos para presentear.