Comprei um Vinho Estragado! E agora?
Não criemos pânico! Esta é uma situação bastante comum! Eu já me deparei com diversas situações com essa temática e existem algumas maneiras de contornar tudo isso sem constrangimentos.
Primeiro acho interessante entendermos porque um vinho pode estragar. O vinho é uma bebida viva, em constante evolução, que nasce, amadurece e morre. Quando engarrafado é ainda um bebida jovem e, alguns podem e devem ser bebidos rapidamente e outros precisam ainda amadurecer e evoluir dentro da garrafa. Esse período de amadurecimento deve ser observado com atenção pois, se o vinho amadurecer demais na garrafa ele morre, como a exemplo de qualquer fruta. Bebidas destiladas como a cachaça, o whisky, a vodca e o gin não são bebidas vivas como um vinho e por isso não tem prazo de validade definido e nem estragam depois de abertas! Ou seja, uma das razões principais para um vinho estragar é o tempo. Ele pode ter ficado mais tempo do que deveria dentro de uma garrafa! Outro fator pode contribuir para um vinho “morrer” são as condições de armazenamento. As garrafas devem sempre ser armazenadas em locais escuros e frescos, jamais em locais que batem sol pois o calor contribui para que o vinho evolua e amadureça mais rápido do que deveria.
FOTO: Danielle Noce – Instagram: @nocedanielle
Outra coisas que por vezes faz o vinho estragar é a própria rolha, o que é conhecido como “bouchonné”. Dizem que o vinho está bouchonné quando ele está com aroma de rolha e isso é um defeito.
Eu já passei por algumas situações curiosas (e outras nem tanto) com vinhos estragados. Umas bastante curiosas aconteceram na época em que eu trabalhei em um restaurante e era responsável pela carta de vinhos do local. Pedir vinhos em restaurantes estava começando a virar uma moda bastante divertida entre os jovens mas pouquíssimos sabiam o que estavam pedindo.
O vinho era a bebida preferida dos casais apaixonados! Sempre quando eu via um casal chegando no restaurante, eu apostava com os cozinheiros o que eles iam pedir. Os homens quase sempre pediam uma carne com algum acompanhamento rústico tipo batatas ao forno, e a mulherada pedia alguma massinha ou, se fosse o primeiro encontro, uma salada. Bom, no primeiro encontro a bebida era sempre vinho! Ah, vocês devem se perguntar como é que raios nós sabíamos quando era o primeiro encontro de um casal! O pessoal de restaurante é treinado para sempre ficar de olho no cliente e prestar atenção na sua linguagem corporal, sempre com muita sutileza claro, adiantar o que o cliente quer: mais água, mais bebida, mais pão pra raspar o fundo do prato, o cardápio novamente, mais privacidade, a conta logo… Os casais no primeiro encontro tem uma linguagem corporal muito peculiar, parecem sempre muito desconfortáveis, com risadinhas nervosas, papinho manjado (eu adorava xeretar a conversa alheia, muá-ha-ha!), essas coisas, mas uma delas era a principal e o meu maior medo: a vontade de impressionar o outro.
Sim, tinha sempre um galã engraçadinho que queria impressionar a moçoila, tentando conquistá-la mostrando como era inteligente. O bonitão pedia a carta de vinhos, escolhia uma garrafa e pedia para o garçom abri-la. O garçom fazia todas aquele teatro do serviço do vinho, o garotão fazia o teatro dele de rodopiar a taça uma trezentas vezes, até espirrar um pouco na toalha da mesa, ficava bochechando o vinho na boca como se fosse “enxaguante bucal”, engolia o vinho, fazia cara feia e finalmente dizia “Este vinho está estragado”. Quando isso acontecia, eu degustava o vinho e pedia ainda pra mais umas duas pessoas provarem para confirmar se de fato o vinho estava estragado ou não. E quase sempre o vinho não estava estragado. O bonitão queria só fazer uma graça pra namoradinha dele, mostrar que entendia de alguma coisa na vida.
Isso para os restaurantes é uma saia justa. Primeiro porque não é justo a empresa perder uma garrafa de vinho, que custa dinheiro, para agradar a vaidade dos clientes. Mas ninguém quer, obviamente, constranger nenhum cliente dentro do restaurante por causa de uma garrafa. E claro, outras vezes, o cliente tem razão sim. Mas por favor, não seja mal educado com o pessoal do restaurante (só porque você está pagando). Então, se por acaso isso acontecer com você algum dia, mantenha a calma e chame o garçom para tirar a dúvida. Posso te dizer que se você gritar com o garçom, ele não vai querer te dar atenção alguma, mas se você falar com jeitinho e pedir para que o restaurante gentilmente analise o vinho, tenho certeza que, mesmo que o vinho não esteja estragado, eles irão trocar a garrafa para você. Muitas vezes acontecia de certos clientes não estarem habituados com determinados tipos vinhos, mais ácidos, mais adstringentes, mais evoluídos, e erroneamente gritavam, para todo o restaurante ouvir, que estavam servindo um vinho estragado no estabelecimento. Muitas vezes, basta somente decantar o vinho, deixá-lo respirar, que ele mudará bastante e aquela sensação desagradável inicial que você teve passará! Resumindo, peça para umas duas pessoas do lugar provarem o vinho com você, para decantarem, deixarem o vinho respirar, para servirem na temperatura adequada e, se daí não tiver jeito mesmo, peça para trocar!
Como cliente, eu já tive também o desprazer de pedir um vinho que não estava muito legal. Uma vez em um restaurante eu pedi um “vinho em taça” e o vinho já estava bastante oxidado. Isso acontece bastante pois os vinhos em taça vêm de garrafas que podem ter sido abertas há dias. Se é um vinho bastante pedido no restaurante, sem problemas, pois uma garrafa de vinho aberta há até uns 3 dias, guardadas com rolha de vácuo e refrigeradas continuam adequadas. O vinho nesse caso estraga pois, quando o líquido entra em contato com o ar, ele oxida e morre. Novamente, na dúvida, chame o garçom ou sommelier da casa e peça para provarem.
Outros casos complicados eu presenciei quando trabalhava em uma importadora de vinhos. Se você comprar algum vinho estragado, você pode e deve sim entrar em contato com a importadora e solicitar a troca. Porém, existem alguns cuidados. Trocar um vinho não é a mesma coisa que trocar uma peça de roupa ou um alimento qualquer no mercado. Novamente, é um assunto meio subjetivo. Sendo assim, eu aconselho o seguinte:
Quando você abrir uma garrafa comprada em importadora ou loja e ficar na dúvida se ela está ou não estragada, tampe-a com a rolha e entre em contato imediatamente com a importadora (se não for possível na mesma hora, ligue no máximo até o dia seguinte). Avise o que aconteceu e solicite que analisem a garrafa, para confirmarem. Digo no dia seguinte ou o mais breve possível pois, já tive casos de clientes comprarem garrafas e 3 anos depois quererem trocar o produto. Assunto delicado… Fica difícil a importadora se responsabilizar por um produto depois que ele saiu do estabelecimento. Como confirmar que ele foi armazenado corretamente? De qualquer forma, as importadoras sempre têm especialistas que conseguem confirmar se o vinho está de fato oxidado ou não. Isso é muito importante pois pode ser que haja um problema com o lote do vinho que você comprou e isso possibilitará a importadora entrar em contato com o produtor e avisá-lo do problema. Geralmente, eles trocam a sua garrafa sem menores problemas. Não adianta levar uma garrafa vazia (como muitas vezes acontecia) e exigir uma troca né?!
Para finalizar, mantenha a calma sempre! Esse tipo de coisa pode acontecer, mas com jeitinho e educação tudo poderá ser resolvido!
Bom final de semana, com muito vinho, a todos!