Degustação de vinhos em Groot Constantia – Cape Town!
Oi! Tô me intrometendo aqui na coluna de vinhos da Carol e da Talitta porque preciso contar minha experiência enoculturalmaravilhosa que tive essa semana. Estou passando um tempinho na África do Sul e nessas últimas semanas de viagem vim para Cape Town, um dos destinos turísticos mais famosos do mundo. Essa cidade é maravilhosa. O formato engraçado das árvores, que são inclinadas por causa do vento que sopra das montanhas, a composição bonita que as arquiteturas antiga e contemporânea formam ao longo da cidade, a Table Mountain, Lion’s Head e Devil’s Peak, montanhas de tirar o fôlego que contornam a cidade, o famoso porto Waterfront… E os vinhos. Ah, os vinhos. Eu poderia passar um tempão escrevendo sobre cada aspecto de Cape Town, mas vou falar apenas sobre a visita a um lugar muito especial.
A vinícola Groot Constantia é a mais antiga da África do Sul. Os vinhos produzidos lá ganham inúmeros prêmios, todos os anos (também, imagine um lugar que produz vinhos há mais de 300 anos – sim, a vinícola foi fundada em 1685! Os caras sabem o que estão fazendo), e são vendidos em diversos países ao redor do mundo. E, claro, depois de todo esse tempo há muita história a ser contada. Os interessados em saber mais sobre o passado, desde o cultivo das uvas por escravos aos automóveis utilizados na época, podem visitar o museu Constantia, dentro da própria vinícola. Eu só dei uma passadinha no museu porque o que eu queria mesmo era vinho. Brincadeira! O legal é que eles fizeram uma linha do tempo desde o começo do começo do comecinho, quando o sir Simon van der Stel, governador da província do Cabo (atual Cape Town), adquiriu a terra e a batizou de Groot Constantia.
Pra encurtar a história, pouco tempo depois que os vinhos começaram a ser produzidos toda a Europa ficou de olho na vinícola e, dizem as más línguas, Napoleão Bonaparte comprava 30 garrafas por mês para curtir seu exílio na ilha de Santa Helena, colônia britânica próxima da África. Bom, isso sem contar os outros reis e gente famosa (Charles Dickens escreveu sobre Constantia) que era fã dos vinhos de lá.
A degustação custou R$10 (vocês me dizem se é barato ou não… hahaha) e eu pude provar cinco dos famosos Constantia. Comecei pelo Sauvignon Blanc (2013) e foi uma surpresa boa. O primeiro contato dá um sustinho ácido na língua, que aos poucos percebe o sabor de maracujá e kiwi combinados com um toque de ervas, que permanecem no paladar. Como a descrição desse vinho diz, o que a gente sente é uma acidez fresca.
O segundo foi o Chardonnay (2013), amor demais. Ó a descrição: “Ao cheirar este vinho, é possível sentir o aroma de limão, notas de frutas de verão maduras e manteiga com o toque sutil de carvalho. Tem sabores ricos, mostrando mais cremosidade e carvalho no palato, enquanto a acidez mantém o paladar fresco e limpo.” Hum… Ok. Não senti o gosto das frutas maduras de verão muito menos de manteiga, mas um toque de limão se fez presente. Amo Chardonnay. Amei esse aí.
Passando para os tintos, agora. A uva Shiraz é bastante popular aqui na África do Sul e os seus vinhos são bem suaves, pelo que experimentei. O Groot Constantia dessa uva (2011) é muito aromático e, segundo a descrição, “uma mistura de groselha, violetas e pimenta do reino”. O segundo tinto foi o Pinotage (2012) e gente, o que é isso? Esse vinho é uma explosão de aromas, sem ser agressivo. Pelo contrário! Parece um veludo na boca… Me senti flutuando ao som de Wolf Larsen numa nuvem macia e quentinha. As notas são de frutas vermelhas, alcaçuz, canela e especiarias.
Confesso que o último da lista de degustação, o Gouverneurs Reserve (2011), não foi a estrela da festa. Mas eu posso estar sendo muito injusta já que as bochechas começaram a esquentar e eu estava num ponto em que tudo parecia bonito e sincero… hehehe Mais intenso, esse vinho é uma mistura de Cabernet Franc (54%), Merlot (36%) e Cabernet Sauvignon (10%), envelhecido em barris de carvalho francês. As notas são de amoras e cerejas maduras e o Gouverneurs Reserve evolui na taça, liberando ainda mais aromas.
Eu gosto muito de vinhos de sobremesa, que contêm um tanto de licor em sua composição (clique aqui para ler um post só sobre eles), por isso perguntei se podia dar uma olhadinha na garrafa deles. A apresentação do Grand Constance (2011) não desaponta: a garrafa de 375ml, mais robusta, com rótulo simples e caligrafia clássica, é uma releitura de garrafas encontradas num castelo da Bélgica em 1760-1840 (!) e vem envolvida por uma caixa de madeira linda. Em outras palavras, chiqueza total. O Grand Constance não está na lista de degustação, mas depois de umas bebericadas nos vinhos acima (hehe), não hesitei em perguntar se eu poderia dar só um oizinho tímido pra conhecer. E adivinha? Tomei!
Agora a conversa vai ficar séria: esse foi o melhor vinho de sobremesa que eu já tomei na minha vida. Posso até estar sendo radical, mas arrisco dizer que foi um dos melhores VINHOS que eu já tomei (e olha que aqui na África do Sul experimentei móintosss hahaha. Os vinhos são baratos então por que não, né?). Assim que esse néctar dos deuses entrou em contato com as minhas papilas gustativas, a sensação foi de estar sendo carregada por fadas e duendes em direção a um terreno mágico e inabitado por nós, reles mortais. Senti como se as nuances de abacaxi, uvas passas, damasco e mel estivessem dançando na minha boca. E, olha, vou ser ainda mais ousada: juro que senti um sabor delicioso de jasmim. Vou até parar por aqui nas descrições senão vai parecer que tô mentindo. De acordo com o rótulo, esse vinho (ahhh, vale dizer que era o preferido do Napoleão?) tem um potencial de maturação muito incrível mas que pode ser apreciado quando jovem. Ou seja: se você guardar ele durante décadas ele vai ficar ainda mais perfeito do que já é agora, novinho.
Vamos falar sobre preços? Na nossa moeda, o Real, todos ali em cima não ultrapassam a faixa dos R$60, e o mais caro – Gouverneurs Reserve, custa R$95. O último, Grand Constance, custa R423, o que dá R$141. Eu estava triste, achando que esse valor era meio caro demais (sabe de nada, inocente) até a Carol me falar que o mesmo vinho custa, no Brasil, a bagatela de R$500. Quinhentos reais. Acho que o post pode acabar por aqui com essa reflexão sobre as taxas absurdas dos produtos importados, né? Beijo, tchau.
PS: Se você tiver a chance de ir a Cape Town, aproveite muuuito a visita à Groot Constantia. Vai ser inesquecível. Pena que é inverno e por isso não tem foto das parreiras :/
PS2: Acho que vou levar uma mala só de vinhos na volta…
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