Maléficos e benéficos: há planetas bons e maus?
Por Luisa Nucada do @nux.astrologia
Se você gosta de Astrologia e consome conteúdo sobre o assunto, já deve ter se deparado com os termos maléfico e benéfico associados aos astros. Marte e Saturno são considerados planetas maléficos, enquanto que Vênus e Júpiter são chamados de benéficos. Será que faz sentido rotular planetas de bons ou maus? Os maléficos trazem problemas e os benéficos abençoam? Vamos entender melhor isso, e saber quem é quem nesse Fla X Flu astrológico.
Vênus, a pequena benéfica
Vênus é chamada de pequena benéfica. Me refiro ao planeta no feminino porque Vênus representa as mulheres, é associada à deusa grega Afrodite, divindade do amor, da arte e da beleza. Só coisa boa, né? Amar, ser amado e apreciar o que é bonito. Ela é benéfica porque anestesia a dor da existência. Apaixonar-se, ver um bom filme, dançar a música preferida… Tão gostoso que até esquecemos dos problemas. Vênus tem a ver com prazer, rege o açúcar, o entretenimento, as uniões frutíferas – desde o sexo que gera o feto até a parceria de negócios lucrativa.
No mapa astral, a depender do signo onde se encontra e também do contexto todo, Vênus geralmente traz benefícios para a área em que está, “adoça” os temas da casa astrológica, influencia com sedução ou bom gosto e traz prosperidade. Encanta os assuntos do setor com graça, criatividade e potencial artístico. Enfim, ela é gostosa, dá prazer.
Prazer é algo sempre bom, certo? Mais ou menos. Vênus também é significadora de vícios. Tudo que é prazeroso pode viciar, como compras, chocolate ou drogas mais pesadas. Prazer combina com risco, a palavra Vênus tem o mesmo prefixo que o termo venéreo, já utilizado para designar doenças transmitidas pela via sexual.
Outro “males” relacionado à Vênus são a preguiça, quando nos rendemos ao prazer da cama e desistimos de levantar; o ciúme, uma expressão deturpada do amor, que tem mais a ver com posse e poder; e também o materialismo, o excessivo apego a objetos bonitos ou de valor monetário. Sem falar do mal do amor romântico, aquele que nos leva a idealizar, fantasiar, criar ficções sobre o ser amado e sobre os relacionamentos, que no cotidiano são muito menos hollywoodianos.
Marte, o pequeno maléfico
Já Marte, para os gregos o deus da guerra, é chamado de pequeno maléfico. Guerra, em tese, é algo a ser evitado, e que representa malefícios: gasto de munição (energia, recursos), mortes, estado constante de alerta, sensação de perigo e cortes. Marte é o planeta da lâmina, simboliza facas, objetos pontiagudos e perfurantes. Dentre suas características, estão o dinamismo e a agilidade, afinal, em campo de batalha há que ser rápido para não morrer em combate.
Assim, o planeta também é associado a “malefícios rápidos”, que nos pegam desprevenidos, como acidentes e doenças agudas. No mapa astral, pode indicar uma área da vida sujeita a conflitos, em que temos de “mandar bala”, fazer esforço para conquistar algo ou lidar com possíveis perdas. Nada agradável, certo?
Porém, sem Marte não temos coragem nem iniciativa. A vida exige que sejamos bravos para romper laços, e até comprar brigas se for necessário. Se há um excesso de benevolência – empatia exagerada ou tendência a perdoar tudo – podemos ficar presos em relações indignas, um casamento infeliz ou uma condição de trabalho exploratória, por exemplo. Cortes são necessários, romper uma amizade ou um contrato é um indicador de que temos limites, e eles precisam ser respeitados. O soldado Marte, para além da guerra, tem a função da defesa e proteção do território, que em última instância é nosso corpo. Quem engole muito sapo acaba adoecendo, não é mesmo?
Júpiter, o grande benéfico
Grandioso em todos os sentidos, Júpiter é conhecido como o astro mais benevolente. Maior planeta do sistema solar, é associado ao rei do Olimpo, Zeus. O grandão engrandece e aumenta, faz crescer e prosperar. Zeus é o deus do trovão, anúncio das chuvas que fecundam a terra e possibilitam uma colheita farta. É símbolo de fertilidade porque teve muitos, inúmeros filhos. Encostou em Zeus/Júpiter, reproduziu. E essa fertilidade toda é o que desejamos para nossos negócios e investimentos, que multipliquem, que deem filhotes.
Há casos, entretanto, em que o crescimento não é bem-vindo. Se falamos de um tumor ou de uma cárie, fica claro que a reprodução é prejudicial. Até mesmo a exposição, o aumento de visibilidade – que é um dos efeitos positivos de Júpiter – pode ser um tiro no pé, no caso de uma gafe ganhar muito destaque, ou de uma opinião equivocada viralizar nas redes sociais. Quando tem Júpiter na parada, o evento tende a ter grandes proporções. Lembram da recente explosão do porto de Beirute, no Líbano? Pois é, Júpiter estava numa posição importante do mapa do acontecimento. Nem sempre temos estrutura para lidar com a magnitude jupiteriana.
O planeta é apelidado também como padrinho, pois representa aquela ajuda, uma benesse que cai no nosso colo, ou que recebemos sem fazer esforço. Mesmo se for “um presente do céu”, a dádiva pode não durar nada, ou nos deixar perdidos, abalados. O recebimento de uma herança ou prêmio da loteria tende a ser uma bênção, porém, se não há preparo e sangue frio para administrar a riqueza, ela escorre pelos dedos das mãos.
Podemos dizer o mesmo sobre o sucesso repentino. Quantos e quantos artistas ficaram famosos e perderam o juízo? Para sustentar a fartura é preciso ter responsabilidade e maturidade, e isso quem dá é Saturno, como veremos a seguir.
Saturno, o grande maléfico
Esse mete medo! Planeta ligado ao envelhecimento, à finitude e à morte, Saturno é o senhor do tempo. É Cronos na mitologia grega, deus do tempo cronológico, e dos efeitos que vêm com o correr dos ponteiros do relógio. Os anos passam e chegam as rugas, os cabelos brancos, a memória começa a falhar e o caminhar fica mais lento… O planeta é lento, o mais vagaroso dos astros visíveis a olho nu daqui da Terra. Seus efeitos são: diminuir o ritmo, retardar, caducar. Os assuntos tocados por Saturno em nosso mapa podem sofrer dificuldades, empecilhos que acabam atrasando o desenvolvimento.
O chamado grande maléfico tem essa fama de malvado porque nos exige uma virtude muito difícil de ser cultivada, a paciência. Se você acha que ser paciente é moleza, reflita um pouco sobre a pandemia do Coronavírus, e a demora da vacina. Gostaríamos de encurtar esses prazos, né?
Então Saturno é esse porre, esse chatão que só vem pra atrasar os corres? Vamos ver por outro ângulo. Os “grandes malefícios” que nos colocam para refletir no cantinho do pensamento são processos de amadurecimento. Nem sempre a hora certa é a hora da nossa vontade, há momentos em que só resta esperar a hora certa chegar. Até lá, vamos amadurecendo. A atual pandemia é um bom exemplo, quantos de nós não tivemos sonhos adiados e estamos superando desafios gigantescos, muito maiores do que achávamos ser possível aguentar. Fases saturninas são esses ritos de passagem, provas de fogo que nos deixam mais sábios, que nos endurecem para as provações da vida.
Sabedoria e a tal senioridade são bagagens que vamos acumulando passo a passo. O mesmo se dá com a responsabilidade, essa coisa de adulto, que é pesada, claro. Tem sabor de dever, de obrigação e seriedade. Saturno é também chamado de “pai severo” porque pune a irresponsabilidade e estabelece limites. Se não limitamos nosso tempo de lazer e ficamos só curtindo a vida, sem estudar para aquele sonhado concurso, e o óbvio que reprovaremos. A punição do pai rígido pode ser simplesmente a consequência dos nossos atos.
Contudo, Saturno também representa os malefícios que estão além do nosso poder e arbítrio, acima do nosso controle. O planeta restringe, contrai e diminui, é análogo a doenças crônicas, a recessão econômica e empobrecimento da população.
E a morte, esse mal inevitável, é o rito de passagem que todos nós teremos que encarar, quando chegar nossa hora.
Resumindo
Os vilões não são apenas vilões, como vimos, Marte pode ser o corte saudável e também a força de vontade que nos leva à luta por conquistas. Saturno é chato porque demora e diminui, sem ele, no entanto, não há disciplina para construir resultados duradouros, que só se mostram no longo prazo.
Vênus, charmosa e bela, em geral é uma delícia, mas pode indicar frivolidade, superficialidade e indolência, se nos entregamos sem controle aos prazeres da vida. Júpiter, o grandão, é benéfico ao aumentar nosso patrimônio, mas também simboliza inchaço desgovernado, como um ganho de peso indesejado ou o crescimento de uma bolha financeira – que cedo ou tarde vai estourar.
Não existem planetas bons e maus. Bom ou ruim, como tudo na vida, depende do contexto.
Luisa Nucada é jornalista e astróloga da Nux Astrologia. Escreve horóscopos diários em seu perfil do Instagram: @nux.astrologia