Quem tem medo do retorno de Saturno?
O retorno de Saturno por Luisa Nucada do @nux.astrologia
O planeta rege limiares e fronteiras, é o último que conseguimos ver a olho nu, na ordem de distância da Terra. É como um muro que separa o visível do invisível. Limitações, limites, aquela pedra no meio do caminho ou a bigorna de desenho animado que esmaga o personagem sem dó. Apelidado de “o grande maléfico” na tradição astrológica, Saturno completa seu primeiro retorno ao ponto de origem em nosso mapa astral entre os 28 e 30 anos, idade em que o peso da vida adulta chega pra valer.
Sentiu um frio na espinha aí? Frio também é coisa de Saturno, sua grande distância do Sol, maior fonte de calor, representa sensações invernais, isolamento e exclusão. Na mitologia grega, ele equivale a Cronos, deus do tempo cronológico. Simboliza aqueles para os quais o tempo já passou: os idosos, muitas vezes isolados do convívio familiar e social.
Eu falei de espinha, espinha também é de Saturno. Coluna vertebral, esqueleto, Saturno rege ossos e dentes, as partes mais duras do corpo, que dão suporte mas também limitam. É a estrutura óssea que nos impede de dobrar o corpo e caber num lugar pequeno, é também ela que nos mantém em pé. Dureza e frieza rimam em som e sentido, no frio nosso corpo enrijece, fica mais tenso. Se endurecemos e criamos calos, conseguimos suportar situações desafiadoras sem nos machucar.
Lentidão e amadurecimento
Ancião que é, Saturno caminha a passos lentos. Seu trânsito por cada signo leva cerca de dois anos e meio, multiplicado por 12, chegaremos aos 28, que é quando começa o primeiro retorno do planeta. Ele é lento, seu encerramento de ciclo – a volta ao ponto de partida – é lento também, um processo, não se amadurece do dia para a noite, afinal. Lá pelos 60 anos, temos o segundo retorno de Saturno, e os mais longevos têm a chance de viver o terceiro, lá pelos 90.
Nesses processos de maturação, podem ocorrer uma sucessão de fatos que ensinam sobre responsabilidade e comprometimento. A vinda de um filho, um passo profissional que traz obrigações de gente grande. Saturno representa o pai, o patriarca, que nos modelos familiares antigos tinha o dever de sustentar esposa e prole, dava a última palavra dentro de casa e era temido por sua severidade. Assim, a responsa que assumimos pode, apesar do peso, nos transformar em autoridade, referência.
Os retornos de Saturno podem corresponder a perdas. Alguns perdem ou se distanciam do pai ou de uma figura paterna. Alguma perda estrutural – um relacionamento, um emprego ou a carreira inteira. Outros têm problemas ósseos e dentários, eu mesma quebrei um dente e descobri uma calcificação na cervical. Ah, vieram muitos cabelos brancos também, essa marca da experiência. Depressão ou sensações melancólicas, invernais, podem pesar o humor e nos deixar rabugentos, com “humor de idoso”.
Essência concentrada
As perdas, por mais que desagradáveis, nos aproximam dos nossos ossos. Osso é essência, existência concentrada, o que sobra depois que a gordura vai embora. Perder é concentrar, quando um fruto perde água e vira uma passa fica com o dulçor mais evidente. Fica mais precioso também. Um caldo aguado não tem tanto valor quanto uma redução saborosa e consistente.
Não há o que temer, se você está aí beirando essas idades limítrofes, 30, 60. Chegar perto do osso é também ficar mais firme, lembrar do que de fato nos constitui, do nosso cristal mais valioso. Após a morte sobra só o osso, é nossa verdade cristalizada que permanece para a posteridade.
Analisar o signo e a casa astrológica onde seu Saturno se encontra dá pistas sobre esse processo de maturação, as responsabilidades que podem ser exigidas e as preocupações “de adulto” que fazem os cabelos ficarem brancos, cor de osso.
Luisa Nucada é jornalista e astróloga da Nux Astrologia. Escreve horóscopos diários em seu perfil do Instagram: @nux.astrologia.