Fases do luto: quais são e a importância de entendê-las
Antes de começar a falar sobre as fases, o que realmente é o luto? É um processo que se inicia logo após a perda de alguém, algo de forma concreta ou subjetiva. Portanto, se não está baseado apenas em um único tipo de perda, pode ser “gerado” a partir de uma morte, término, despedidas ou até mudanças, fim da graduação, da adolescência e tantos outros encerramentos de ciclos. É caracterizado muitas vezes como um “sentimento” ou uma “dor”, mas pode se apresentar de diversas formas de acordo com cada um. O ponto é: passar pelo luto é inevitável e necessário – motivo tão importante para entendermos as fases do luto e como elas podem se apresentar em nós.
Também, é importante saber que as pessoas não são iguais ou programadas. Ou seja, as fases do luto não se apresentam da mesma forma nas pessoas, muito menos na mesma ordem. A reação será distinta, muito caracteriza por qual perda, vivência e estrutura emocional de cada um neste momento. O caminho é compreender essa fases para ajudar você ou alguém próximo a passar por este processo.
Muito do que está nesse texto já é dito por pessoas que estudam e discutem o luto e o fim há algum tempo. Vale a pena acompanhar essas pessoas e projetos para entender essas e outras facetas desses momentos. Elas são a Juliana Kunc Dantas, que produz e apresenta o podcast Finitude; Camila Appel e Jéssica Moreira, do blog Morte sem Tabu; e o projeto “Vamos falar sobre o luto?”, iniciativa de apoio e discussão sobre o assunto (se tiver mais indicações, deixe nos comentários).
Vale falar que quem definiu essas fases foi a psiquiatra suíço-americana Elisabeth Kübler-Ross, em seu livro “Sobre a Morte e o Morrer” (1969). Então, vamos entender as fases do luto?
NEGAÇÃO
É o estágio no qual ocorre o ato de negar o fato, acontecimento ou perda. É naturalmente uma defesa psíquica que encontra algum jeito de burlar a realidade e negá-la na tentativa de “sofrer menos” ou lidar com a situação real mais tarde, postergar o acontecimento. Geralmente é o primeiro estágio, mas pode voltar, aparecer mais tarde ou nem acontecer.
Para quem está passando pelo luto as ações ligadas a essa fase geralmente são de introspecção, fuga para outras experiências e a frequente ação de evitar falar sobre – o jeito é aceitar que está passando por essa fase e se preparar para outras. Para quem está por perto, vale aguardar momentos oportunos e mais confortáveis para se aproximar e escutar quando o enlutado queira falar.
RAIVA
A raiva geralmente aparece quando não se é possível mais negar o fato e a revolta se faz presente. Ela pode se apresentar de diversas formas: por questionamentos, sentimentos de injustiça e (talvez) comportamentos mais irritados e agressivos.
É muito comum que este momento seja evitado e que palavras como “mantenha a calma” sejam ditas corriqueiramente. No entanto, é preciso ter cuidado. É uma das fases do luto e não deve ser evitada. A indicação é apenas lidar com ela da forma mais saudável possível. Se você é o enlutado é importante encontrar o equilíbrio entre os próprios sentimentos e cometer ações seguras para você e os outros. Se você está por perto, não reprima. Observe, escute, compreenda e impeça apenas ações perigosas.
BARGANHA
Este é o momento da negociação, chamado de barganha. O objetivo aqui de quem está passando pelo luto é oferecer coisas em troca da perda. Promessas, metas como pagamento de alguma recompensa e formas de evitar o acontecimento (antes ou depois) são muito comuns.
Geralmente, acontecem pedidos sem solução, como quando alguém morre e pede-se para que volte a vida em troca de algo. Ou promessas mais concretas, do tipo “eu prometo ser uma pessoa melhor se você ficar comigo”. Esse último exemplo geralmente está ligado a términos de relacionamento, demissões, briga com alguém. O caminho é sempre compreender e entender que é uma fase que possivelmente será seguida pela resposta de que talvez não tenha nada que possa ser feito – tanto para quem está de luto quanto para quem está próximo.
DEPRESSÃO
Esta é uma das fases do luto que mais representa o quanto esses momentos se parecem mais com uma avalanche do que por seguir uma ordem. Isto é, torna-se difícil dizer exatamente quando o momento da depressão vai acontecer, se vai chegar ao mesmo tempo que as outras e tantos outros questionamentos. No entanto, também se vê uma frequência: de que seja um momento que antecede a aceitação ou como uma das fases em que facilita para o “seguir a vida”.
A depressão é representada, principalmente, pela introspecção acompanhada de tristeza e solidão. É comum que seja evitado o contato e que a maioria das reflexões sejam isoladas. Mesmo assim, para quem acompanha o luto de alguém, o melhor a fazer nessa fase é estar por perto, disponível e capaz de escutar qualquer expressão de sentimentos e dor – é importante estar nessa fase mas também é necessário que se saia dela.
ACEITAÇÃO
E por fim, mas não necessariamente nessa ordem, a aceitação. É o estágio em que se acredita ser (e realmente é) possível conviver com o luto e todas as implicações causadas por ele. Neste momento, se percebe melhor a realidade e entende-se o que aconteceu. Assim, é possível lembrar, questionar e até mesmo sentir os outros sentimentos, mas de forma mais tranquila.
Por mais que pareça, este não precisa ser o estágio final do processo, nem acontece de forma linear abrindo um novo horizonte – ainda que possa ser assim. É possível entrar nesse estágio logo quando o “fim” acontece, no meio do processo ou só depois de passar por todas as fases. E mesmo que você ou alguém que conheça esteja nesse momento, vale lembrar que é possível voltar para um dos estágios citados anteriormente, como a raiva ou negação. O que acontece é que esta fase é extremamente importante para que consigamos olhar para as outras e entender a realidade de uma forma diferente, menos nebulosa.
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As discussões sobre a morte, o fim e o luto não são nada simples, mas também não precisam ser encaradas de forma extremamente complicada. Entender as fases do luto e saber que elas podem acontecer de maneiras diferentes é um excelente passo para ajudar as pessoas e evitar o tabu diante disso. Deixe nos comentários sua opinião ou alguma experiência 🙂